14.3.09

MIDNIGHT COWBOY


Acima de qualquer outro tema, "Perdidos na noite" - título no Brasil -, é um filme que se inspira nos sonhos.
Sonhos diferentes, de dois personagens que aparentemente nada têm em comum, até que se encontram por acaso, e, numa fuga da solidão, talvez, aprendem a amar e compreender um ao outro.
Joe Buck - típico texano, infeliz com sua vida de lavador de pratos, sonhador apaixonado por si mesmo, por suas imensas possibilidades de ser e viver coisas diferentes - resolve se aventurar na 'big apple'.
Com total convicção de que absolutamente nada poderia atrapalhar seus planos de ser um garoto de aluguel e, tão logo lá chegasse, teria madames ricas a seus pés e desfrutaria de uma vida que sequer jamais sentira perto de si. Sonhador.
Infelizmente as coisas não acontecem assim. Claro, nada poderia ser tão fácil. A vida nem sempre nos apresenta as chances que realmente queremos.
Joe tenta, fracassa, e depois de pouco tempo se vê perdido numa selva urbana, onde ele não passa de mais um, onde são indiferentes a ele. Seus ideais são, um a um, abandonados pelo simples fato de ser preciso.
No meio de uma crise, onde o 'cowboy' se pergunta onde perdera seu brilho, encontra Ricco. A princípio, ele aparenta ser o sujeito certo para tirar qualquer um do buraco. Ele domina toda a manha de se viver numa cidade grande, sem ter dinheiro para nada. Os dois começam uma amizade duvidosa, onde, após ser enganado por Ricco - que depois passa a ser chamado de Ratzo por implicância -, Joe não deseja manter laços afetivos.
Porém, os dois tornam-se amigos. Sim... o sonhador e o picareta. Joe descobre que Ratzo não passa de um coxo frustrado que nunca realizou coisa alguma, e Ricco conhece todo o medo de Joe. Medo de não ser aceito, o que ele julgava ser impossível, e por isso mesmo, levar constantes topadas.
Ricco era diferente. Ele nunca chegou a encontrar no espelho motivo algum de orgulho. Buscava em outros lugares: no fato de enganar os outros com facilidade e de sobreviver a quedas e no escuro. Mas isso nunca foi o suficiente. E a um certo ponto, ele abre mão de qualquer dignidade que ele poderia impor a si mesmo e literalmente pede a Joe que o faça companhia. Apenas isso. E a convivência os fazem íntimos.
A amizade, o afeto e o carinho entre eles talvez não ocorressem de modo algum, se não estivessem, como dizem, na hora certa e no lugar certo. O ponto de partida dessa relação, no final das contas, é a solidão. Esse sentimento que torna-se tão difícil de se aceitar com o tempo, fez nascer algo belo.
Sentimentos reais podem nascer onde só haveria falsidade. O grande engano de se achar que tudo que temos de valor, estávamos procurando o tempo todo. Nenhum dos dois estava.
Vejo-os como vejo a mim mesma e a muitos de meus amigos. Como cães que perseguem um caminhão, a toda hora, com grande determinação. Mas, no entanto, não saberiam o que fazer se o alcançassem. Não saberiam o que fazer e nem sequer sabem se é realmente esse caminhão que querem. Mas é ele que se apresenta impossível. Na corrida, ganhamos e perdemos muito. Sofremos e sorrimos; mudamos. Até que o caminhão não parece grande coisa. Correr não é mais valioso; sentamos.
Passamos a observar a corrida de outros, como se olhássemos para o próprio passado.
...
Não é possível saber o que acontecerá com os dois 'perdidos' até que realmente chegue a cena final. Mas é fácil perceber o quanto um ajudou o outro, da maneira que nunca pensaram precisar, apenas representando um abrigo.

Um comentário:

  1. Muito legal, Babi!
    Parece ser uma história realmente.. tocante.
    E é verdade o que você disse, todos nós, em algum momento, ganhamos ou perdemos. Devemos mesmo é valorizar o que temos hoje.
    Beijos,
    Vi !

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