28.7.09

doc. Dream

Eu provavelmente deveria começar a contar a história da minha vida com a ilustre frase " Tudo começou...", mas eu não gosto dessa ideia. Vamos tentar algo diferente:
Veja bem, caro leitor, eu sempre fui de dormir. Desde pequeno tinha esse hábito , e não passou nunca mais. E, sendo assim, com o passar dos anos eu comecei a tentar expandir minhas viagens ao mundo dos sonhos. Experimentava dormir em lugares improváveis, tomar leite quente, chá quente, álcool e até dormir com músicas diversas (de clássico ao punk), para ver como seria o sono.

Daí eu descobri minha vocação; logo cedo, antes mesmo de sonhar com faculdade ou uma carreira, eu sabia que queria viver de dormir. Minha família jamais se importou, tendo em vista que era barato e não incomodava ninguém. Então, quando me formei no colégio, dormindo em todas as aulas e colando nas provas, eu passei com louvor para a UUSS - Universidade Universal Santa Soneca. Acredite; nem precisei de vestibular ou qualquer outra prova do tipo. Logo nos primeiros dias, eu me apaixonei por aquela rotina universitária. Tomava as aulas com atenção e estudava em casa. Media níveis de baba, durante cada nível de sono. A matéria mais complicada era a de testar os níveis de atividade cerebral, mas eu gostava. O que me chateava era ter que estudar os Pesadelos. Esses tempos de aula sempre acabavam na Ala Hospitalar, sonhando com alguma enfermeira gostosona.

De fato, quem dava essas aulas era o próprio Freddy Kruguer, então não

poderia mesmo ser diferente.

Chegando na reta final, eu estava enlouquecido com a Monografia. Estava muito confuso para escolher o tema, e precisava começar logo, afinal era um trabalho longo. Mas creio que escolhi a melhor opção quando fiz a pesquisa em Harmonia dos Roncos - Como isso afeta sua vida? Foi uma época em que eu mal parava em pé para comer. Vivia perseguindo o Morfeu para fazer perguntas, que por sinal me renderam ótimas conclusões. Gravei roncos ao redor do mundo todo, e valeu a pena. Me formei em Sonho, com direito a um diploma-travesseiro para servir de base para minhas futuras pesquisas.
Mas, sabe, leitor, você provavelmente está com inveja de eu não precisar acordar cedo, ou sequer acordar em certos dias, a não ser para comer e fazer pips ou pops. Só que eu estou agora numa fase da minha "vida", em que questiono muito esssa situação. Quer dizer, nunca amei nenhuma mulher que não fosse meu sonho da Ava Gardner. Nunca visitei lugares como Paris, a não ser no meu sonho de O Último Tango em Paris. E isso me faz uma falta, que nem sei como, já que nunca tive. Queria mesmo era acordar por uns dias... Sentir o sentido real das coisas que as pessoas sonham. Ver o que é ilusão, e o que eu posso realmente chamar de meu. Ah, leitor, como eu queria poder viajar pelo mundo, sem voar, e depois voltar e ver se ainda quero passar o resto dos meus dias numa cama, sonhando comigo mesmo sapateando com Frank Sinatra cantando ao fundo, num cenário estilo subúrbio de NY. Mas confesso que tenho medo. Seria necessário que eu tomasse uns 10 banhos frios e um número ainda mais exorbitante de café duplamente-duplo puro. E se depois disso, meus sonhos nunca mais fossem os mesmos? Não sei... É arriscado. A verdade é que esse, é só mais um sonho antigo. z z
Acredito que pouco antes de morrer, z z
quando eu estiver bem velhinho e perceber
que me resta pouco tempo, vou largar os
soníferos e ver se nesse mundo de realidade
tem um lugar para um velho sonhador... Talvez.

18.7.09

Poesia; goste ou não.

Eu sou seu plano real,

guardado numa conta mensal.

Eu me multiplico,



eu somo e jamais divido.

Mas se você quiser me gastar,

por favor,

que seja para comprar um Jaguar.





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Vem, fada!


Desejo ser um jasmin.


Viverei no seu jardim,


e você pode me defender.


Assim pode ser?


Eu, cheia de frescura


e você com uma armadura.


Espante os ferrões das abelhas;


que eu atraio as borboletas.


Seremos como guerreiras,


diferente das covardes violetas.


Oh, fada! Será a nossa Terra do Nunca!


Não terá lugar para espinhos,


somente casas de passarinhos.


9.7.09

Fofo, sim. Longe de mim.

Gosto muito de você, gatinho.
Seu jeito manhoso,
nada cheiroso.
Vem sempre de mansinho ,
encostando seu focinho,
pedindo carinho.
Mas seu pelo, embora sedoso,
devo dizer,
não cheira cheiroso.
E fica lambendo minha mão.
É muito fofinho;
seu miado agudo, com sotaque felino.
Mas mesmo bondoso,
você tem um bafinho,
de cheiro horroroso.
E de repente você se manda ligeiro,
perseguindo o peixeiro,
e eu, cheia de receio,
de não lavar minha mão.
Do seu cheiro, gatinho,
eu não gosto, não.

8.7.09

Silêncio



Recentemente adicionei à minha lista de palavras não ditas, mais uma palavra calada. Ela não pôde ser nada além do que eu pensei, e então, nada foi. A palavra ficou magoada e agitada. Debatia-se toda irritadinha querendo sair. Mas mesmo assim eu não falei, e não a fiz ser ouvida.
Agora ela me cobra. Quer seus direitos e me enfrenta sempre, exigindo minha voz.
E outra vez, eu não paguei. Calei novamente, porque não estava nem aí. Mais parece que as sufoquei.
Vou a julgamento e espero pela melhor pena possível. Quando cheguei ao tribunal, não havia um só sussurro. Jurei contar a verdade e somente ela, com a mão sobre um discionário da línga portuguesa. Mas quando fui me justificar, deixar que todos soubessem meus porquês, nada consegui juntar. Em ato de vingança, as palavras agora não compareceram. Acho que simplesmente viraram as costas para mim, no momento em que elas me eram fundamentais.
Fiquei desamparado. Perdido entre a incapacidade de reunir palavras e formar minhas frases, e a possibilidade de ser condenado a nem sei o que. No fim, emudeci. Acabei sendo preso, sem nenhum testemunho, nem sequer o meu.
Agora, sempre que posso, tento usar as palavras. Falar em voz alta, mesmo quando sozinho ou sem assunto. Solto as palavras que não fazem mais muito sentido aos quatro ventos, e elas agem solitárias. Resolvi fazer de minha voz um bem público sem saber se é certo ou errado. Quem quer ler um livro aberto, se ele estiver escancarado?
Aprendi a minha lição; eu digo e grito mas o significado me foge. Repito, todos os dias, o quão grande é o mistério das palavras.

7.7.09

Cara de comida?!

Meu médico disse para que eu não comesse nada que tem marca. Apenas coisas naturais, diz ele. E, tudo bem, é sempre melhor ser saudável. Mas eu não sei, realmente, se quero ficar controlando a esse ponto a minha alimentação. Quer dizer, eu tenho 16 anos e mesmo sendo uma menina cheia de hormônios e convivendo com amigos viciados em balinhas, vou me privar de tudo que tem marca. O que é bastante coisa, mesmo.

E então, pensando bem, comida parou de ser saudável ou gordurosa, ou apenas comida. Agora comida tem rosto, marca e etc. Conheço pessoas que escolhiam o que comer simplesmente pelo valor calórico, e não pelo sabor. Até porque eu mesma já fui uma delas, por mais que eu odeie admitir. Já os vegetarianos, por exemplo, não comem algo que gostam por uma causa nobre. Os animais que sofrem com o abate e coisa e tal. Tudo bem, sério. Só não venham tentar me levar para o lado soja da vida com aquele papo de 'Animais; porque você ama uns e come outros?'. Quando eu leio isso só penso em uma resposta óbvia: Porque estava com fome.

No fim, me parece que muitas dessas escolhas na hora de fazer sua dieta são feitas com baseamento em ideais como: fazer parte de um grupinho 'Mundo Verde' ou 'Coca-for-life'. E isso seria mais uma maneira de reafirmar a sua personalidade, talvez? Ou o bom e velho desejo de ser aceito em determinada 'tribo'.

Mas já temos muitos fatores para pessoas que buscam essa identidade se colocarem com um estilo próprio: moda, gosto musical, goto cinematografico... Uma boa conversa!

Deixem a comida como fonte de alimento necessário que ela é! Se você tem fome, coma. Ser um esqueleto hoje em dia pode parecer legal, mas garanto que não valhe a pena. Se está meio acima do peso, vai fazer um exercício. E se por acaso tiver alguma causa política para defender, fica na sua e me deixa comer meu bife em paz.

5.7.09

Carta ao medo



Caro medo,
Você bem sabe que por muito tempo nós fomos unidos demais. Eu fazia questão de te levar aonde fosse, mas a verdade é que eu não gostava de nós dois sempre tão grudados.
Tentava te esconder, guardando num canto ou disfarçando, mas você não se tocava e sempre aparecia bem nos momentos importantes, me fazendo sair correndo ou desistindo de alguma coisa.
Isso me privou de tantas conquistas, erros e certezas, que com o passar dos anos fui me enchendo de você. Minha família, meus amigos; ninguém aguentava mais te ver comigo. Sempre assustado com tudo e me arrastando para casa antes das 20:00h. Era um saco.
Não me separava de você, porque tinha medo de ficar sozinha. Não brigava nem reclamava, porque tinha medo de parecer chata. Daí eu percebi que tudo girava ao redor das suas necessidades. Eu não podia crescer e ficava estagnada entre consultas com terapeutas e crises.
Por isso tudo chegou a hora de dar um basta. Isso mesmo, quero terminar tudo que temos. Não vou mais te ligar, e espero que faça o mesmo. Sei que posso ter uma recaída, mas saiba que você não vai me dominar como antes. Desejo que perca essa sua mania de nunca tentar nada novo; eu gosto de você, sabe. Quer dizer, você faz parte de mim e da minha vida, mas agora eu tenho que tomar as rédeas da situação e procurar mais do que você me dava.
Espero um dia lembrar das coisas que não fizemos juntos e rir, com certa saudade. Anseio, também, pelo dia em que nos esbarraremos na rua como velhos amantes e eu serei capaz de apenas acenar e seguir meu caminho.
Você pode ficar indignado, mas eu vou pular de paraquedas na semana que vem. Sei que mesmo odiando isso, você estará lá. Mas dessa vez, ou você pula junto, ou fica lá com cara de panaca.
Um abraço,
Széchy