28.11.09

Simples

Peço que não se altere por uma palavra solta, dita à toa, sem pensar ou refletir. Se te fizer sorrir, não me conte o motivo, deixe que seja e divida comigo. Eu conto várias histórias e faço de conta que sei de tanta coisa, e você me ouve como quem já conhece o final, me fazendo desmanchar.
Percebo, enfim, que você não tem uma grama no corpo que eu não goste, não. E sinto dentro e fora, o ar bom de quem cobra respostas rápidas ao que não foi dito.
Se eu me pintar os olhos, maquiar, e tentar ser mais bonita, é para chamar sua atenção. Sinto-me uma boba, livre, leve e solta, só com o toque da sua mão.
E ser a maior sortuda, quando você me traz sua doçura. Sempre acabo não me importando de perder o chão. Juro que não entendo, nem por um breve momento, se te quero tão presente por feitiço ou afeição.
Mas lhe asseguro mil presentes chatos, fotos num porta retrato, versos num caderno, flores imaculadas e sentimentos complicados mergulhados em paixão. Peço também que quando se sentir para baixo, deixe que eu te abrace, e quando sentir medo, deixe que te diga besteiras sobre o coração. E se, por acaso, nada houver, seja o que for, lembre-se que lhe tenho um tanto assim de amor.

27.11.09

Licença

É melhor, as vezes, ir devagar, quase parando. Digo, é melhor ir com calma, porque, segundo o ditado, "devagar se vai longe". Demoraria um tempo muito maior, e eu nunca estive muito no clima para perder tempo. Mas talvez eu simplesmente devesse experimentar assim; quase parando. Não sei bem como, acho que faltei a essa aula na escola de direção. Tenho que admitir que nunca gostei dessa escola, em todo caso, e pelo visto estou bem longe de me formar. Eu tento manter a velocidade determinada, mas quando dou por mim, estou com o pé estacionado no acelerador e avançando a mil por hora sem me preocupar. Correndo, com o risco de capotar, derrapar. Paro somente para abastecer com gasolina o carro, e depois volto a me embriagar de adrenalina. Minha licença para dirigir vai mesmo demorar a sair, e eu me conformo com isso. Entendo, afinal, o porquê do risco de eu dirigir minha própria vida; o faria no escuro, com as mãos atadas e os pés viciados no passo errado. Essa falta de liberdade é um belo preço a se pagar por não seguir as regras.
Já amassei a lataria tantas vezes, dando com a cabeça na parede por pura teimosia. Já estraguei o motor com meu sedentarismo ordinário e minha alimentação desbalanceada. E nem vou falar das vezes que atropelei meu coração na maior negligência.
E mesmo sem autorização, conduzo esse carro desgovernado sem prestar atenção em semáforos ou guardas. Ladeira abaixo, sem pôr as mãos no volante. Se eu penso no risco, tenho medo? A pergunta certa seria ''Porque não?''.

11.11.09

Pois é.

- Achei seu último texto bem legal. Como consegue inspiração?
- Não consigo.
- Como assim?
- Eu copio tudo na cara de pau.
- Po! Você não tem vergonha?
- Não. Só copio coisa boa.
- Mesmo assim. Se você copia não é a sua arte. E você está meio que roubando, até.
- Mas eu não sou egoista, só quero que as pessoas comentem bem para eu ficar com a moral lá em cima.
- Que horror...
- Até essa de ''só copio dos bons'' é plágio. Quem disse foi o Woody Allen em Como Tudo na Vida.
- Para com isso, cara, está ficando compulsivo.
- Não dá. Aliás, essa conversa vai virar post.
- Hahaha. Babaca. Será que eu vou pelo menos receber créditos pelo diálogo?
- Só se você for bonzinho e dizer algo interessante para o grand finale. Sabe como é, posso ficar sem ideias.
- Ta bom... É... Não sei.
- Ta vendo? Até copiar é difícil.
- Tenta alguma coisa 'boa' então, como o Woody disse.
- É! Tenho uma infalível: ...
- Por favor, não diga "Ronaldo".
- ...
- AH!!

7.11.09

Um certo errante

Tempo pode até não existir para algumas pessoas. Eu mesma já achei que tempo era uma ilusão, quase que um bem imaginário em constante metamorfose. Complicado, eu sei. Vou tentar explicar: Cada um tem seu tempo de nascimento, e a partir dele contamos os anos para nossa morte. No início, comemoram-se os meses vividos, ainda bebê, quando não há muita atividade produtiva, mas, como todo e qualquer começo, é bonito. Depois, contamos os anos, mas não aprendemos ainda para quê, exatamente, tem aquele parabéns com todo mundo reunido, etc e chega. O tempo vai passando e as vezes parece que quase pára. E vai num rítimo arrastado até que, quando a pessoa se dá por si, lá se foi boa parte dos anos em que o joelho ainda não doía e... bem, basicamente todo o resto ainda prestava. Daí os dias passam devagar, demorados e chatos, enquanto que os anos vinham avassaladores sem a menor piedade sobre as rugas. Já não se sabe nem ao menos o porquê daquela antiga pressa... Tolice. Vem aquele pensamento, todas as manhãs ou noites, de que já está acabando, a parte boa já passou, daqui a 20 anos... quem sabe, inválido numa cama ou pior ainda numa caixa. Quem sabe?
Bom, eu tinha essa filosofia sobre o meu tempo, com o que julgava ter aprendido de valioso em filmes e músicas. Tempo e morte sempre foram os meus dois temas favoritos. Não pelo caráter mórbido ou funesto como alguns pensam, mas porque são tão interessantes e humanos. Fazem parte de mim, como menina de 16 anos que ainda sou, sem ser concreto. Não é como amor, vê? Amor a gente pode quase sentir o gosto... mas tempo? Morte? Estão onipresentes e invisíveis. Talvez eu devesse viver de acordo com a época que me convém. Eu estou mais na fase de curtir sem consequências do que me preocupar com crises existenciais. Mas eu saber disso tudo não me faz ter menos medo de nunca concretizar algo realmente gradioso ao meu ver. Medo maior mesmo, é o que eu sinto de ficar velha. Sábia, qual a vantagem? Prefiro, muitas vezes, ser ignorante, amadora em tudo, errante, e jovem para continuar nesse ciclo vicioso que me é tão belo e rico, do que ter uma mente trabalhada em anos e anos de fatos e datas. Tenho paixão pelo erro, pelo impulso dos amantes, de se tocarem e possuírem como se não houvesse amanhã.
Não espero chegar a nenhuma conclusão com esse texto, nem para mim nem para quem o lê, muito embora espero estar passando alguma coisa. Mas esse mistério me atrai; são perguntas que só são bonitas para mim, porque eu sei que nunca terei resposta. Então, se você leitor/leitora, achar que pode me dar alguma, por favor, não o faça. Prefiro meu estado bêbado de dúvidas, dramas e ideologias furadas. Prefiro esse andar no escuro, mesmo que algum filósofo ou qualquer pensador venha me chamar de preguiçosa. Mas eu nunca disse que não era. Não preciso de motivos nobres, digo aos quatro ventos; Prefiro estar embriagada.


PS: Time - Pinkfloyd
Morangos Silvestres - Ingmar Bergman
São esses um dos filmes e músicas que inspiram para tudo isso.

6.11.09

Você nem sabe, mas digo adeus.

Na minha cabeça, é como se eu estivesse balançando a mão no ar como sinal de adeus. Como uma boba, porque você já viu e já respondeu, mas eu continuo dando 'tchau' enquanto fico de pé no meio da estrada, vendo o carro levando você embora. Ou você levando o carro embora, talvez.
Pergunto-me se você está me observando pelo espelho retrovisor, apertando o volante com as duas mãos, na espectativa de que eu volte para dentro de casa antes de você sumir no horizonte. Mas eu não volto.
Continuo lá, e do nada sinto minhas pernas falharem, como bengalas velhas, cedendo ao peso do meu corpo. Acabou. Um sentimento de ardência que se concentra nas maçãs do meu rosto, provavelmente me deixando vermelha, e tornando a minha capacidade de respirar algo impressionante, só por ainda ser feito.
Quando a poeira na estrada abaixou, quando eu parei de ouvir o barulho do motor do carro e nada mais via na minha frente a não ser a estrada melancólica de sempre, esperei mais alguns segundos para voltar a mim mesma. Se amanhã eu ainda te amar como amo hoje, espero ter um plano. Eu certamente não saberei o que fazer com esse amor todo. Queria que ele fosse no banco de carona com você. Queria que você levasse não só o carro, mas a imagem que eu carrego comigo. Seu rosto furtivo; olhos de cor sem graça, nariz de beleza duvidosa, boca desenhada e pele marcada.
Imaginei tudo o que deixaríamos de ver juntos, viver juntos, como um pecado cometido repetidas vezes, todos os dias. Eu percebi, como num susto, minha sentença ao purgatório. Que algum deus tenha piedade da mim. Que eu não me torture com a culpa do amor não amado e da vida conjunta não vivida.

Loucura

- Doutor, estou começando a ouvir vozes.
- E o que elas te dizem?
- Eu não entendo o que elas dizem.
- Bem, e como elas são? Zangadas, felizes, ...?
- Elas me parecem vazias.
- Vazias?
- Mudas.
- Vozes mudas?
- Como silêncio.
- Como silêncio?
- Sim.
- Como pode isso?
- Elas simplesmente não me dizem nada. Nada são.
- Então como sabe que estão falando com você?
- Sei porque eu sinto.
- Sente as vozes que nada lhe dizem?
- Não; sinto o vazio.