30.6.09

Alegoria da sala de aula

"Trabalho de Filosofia sobre a Alegoria da Caverna de Platão.
Tema: A alegoria da caverna nos dias de hoje.
Por: AlunoX
Turma: 2009

Hoje em dia, a situação está bem parecida com a da época de Platão. É bem curioso que depois de tanto tempo (mesmo) as coisas tenham mudado tão pouco.
Veja bem, tudo se baseia no conceito de que algumas pessoas estão acorrentadas no interior de uma "caverna", que na verdade é a sala de aula, e ficam observando, inertes e quase altistas, a uma realidade projetada; as sombras, vulgo, matérias.
Platão, com 16 anos, certamente era obrigado a sentar em bancos de pedra, muito desconfortáveis, e ver um cara falando sobre sua vida com a matemática, biologia, história etc, e de tanto ter o pensamento levado a países distantes, concluiu que a luz, a vida de verdade, estaria disponível quando ele se libertasse das correntes imaginárias que foram criadas na sua mente juvenil pelo medo de levar bronca dos pais.
Só então ele estaria livre para conhecer uma realidade sem máscaras de provas, testes ou moralismo quanto a jogar bolinhas de papel nos nerds, e se tornar um ser humano plano e completo.
Fim.

Ps: Professor Eucrêio, quero deixar claro que isso foi sim, uma indireta. Mas ao contrário do que possa parecer, eu não o considero um defensor das sombras do saber, ou nada parecido. Eu te entendo. Quer dizer, crescer sendo zuando pelos colegas pelo nome estranho e pela gagueira deve ter sido difícil; você provavelmente não pôde compreender Platão como eu. Mas tudo bem, tô de boa.Valeu!"


Professor corrigindo trabalho de AlunoX:

25.6.09

Teoria da conspiração

Vim aqui para anunciar previamente a primeira teoria conspiratória sobre a morte de Michael Jackson. Alguns podem dizer que não é uma atitude muito católica porque, bem, o corpo dele ainda nem esfriou. Mas eu preciso me adiantar para ser a original; daqui a pouco várias vão brotar da terra como praga e todo mundo vai esquecer como era ótimo rir do nariz postiço do coitado.
Sinceramente, ataque cardíaco com 50 anos? Sim, acontece... Mas além de ser improvável, com alguém rico como ele, a medicina já devia ter tirado esses pequenos impecílios do caminho.
Acredito fielmente que toda a verdade é que ele está muito bem naquela propriedade gigantesca.

Pense com carinho na situação de Jackson:
Estava ficando realmente velho, e ninguém quer ser um "Rei do Pop" vovô,a não ser Paul dos Beatles e ele já tem a própria teoria conspiratória.
Também, tinha o fator má fama que lhe fora atribuido depois de anos de padofilia não confirmada e atentados um tanto quanto suspeitos.
Com tudo isso acontecendo, seria bem possível que ele desse um último golpe publicitário e promovesse a própria morte diante da mídia, enquanto vive tranquilamente no seu parque de diversões particular com seus amigos "Oompa Loompas" formados em estética.
Portanto, não precisa ficar mal ouvindo Thriller. Em algum lugar de A Terra do Nunca, MJ ainda imita zumbis e se contradiz cantando Black or White (porque no fim das contas importa, sim!)

Podem começar as especulações enquanto aguardamos mais notícias e os futuros especiais de Luto. Afinal, ele merece; um grande artista, com certeza. Mesmo que não pareça, vou sentir falta da dança exemplar e programas de "antes de depois". Vá em paz... Para sua própria Terra do Nunca.

24.6.09

Ironia




Como todo gordinho, ele adorava ir a rodízios de pizza. Todos aqueles sabores diversos e deliciosos, o ambiente e o refrigerante diet. E como toda sexta-feira, aquela não poderia passar sem a programação favorita. Então, foi ele e a namorada nova, que sinceramente não me lembro o nome. Mas o fato é que a namorada-sem-nome estava entediada daquela rotina de Pizza's Roo; o restaurante que o namorado sempre ia com ela.



Tudo bem não ser o jantar francês à luz de velas que ela imaginava, mas conhecer os garçons por apelidos íntimos já é demais.



- Vamos tentar um lugar diferente hoje, amoreco.



- Porque? Pizza's Roo é tão bom.



- A gente poderia ir lá de pijamas e acampar no terraço com os filhos do dono de tanto que vamos lá.



- Você também pensou nisso?



- Por favor! Só hoje!



- Mas...



- Por mim!



Houve um momento de pausa onde muitos pensamentos polêmicos passaram pela cabeça dele. Traição, fome, incerteza e muita fome. Bom, parece que valia a pena tentar.



- Vamos.



Ela comemorou animada. Na verdade, se olhando por um ponto de vista positivista, aquilo poderia ser o começo de um mundo diferente nas sextas-feiras.



Não sabiam em qual ir, então foram passeando pelo centro até achar alguma que lhes agradasse. Não seria difícil; na cidade grande tem sempre muito de tudo. E foi mesmo um assombro quando encontraram um lugar aconchegante e com um cheiro maravilhoso (que com certeza foi o fator de escolha decisivo) saindo da chaminé, bem afastado da confusão.



Estacionaram e entraram procurando uma mesa longe da janela, como sempre, para evitar os paparazzi. Veio um garçom, que não parecia muito bem, ascender uma vela vermelha que em poucos segundos iluminou minimamente o ambiente, mas deu um toque mais elegante.



O restaurante todo era muito peculiar. Animais empalhados enfeitavam as paredes, também avermelhadas, e havia uma decoração toda voltada aos maiores diretores de cinema; Antonioni, Truffaut e Felini.



Ele sentiu uma pontada de inveja. Ou ciumes, também, já que sua foto não estava presente com as demais. Mas pouco importa, ele era muito alternativo para aquilo tudo.



- Vão querer o rodízio?



- Sim, por favor. Eu vou beber uma cerveja e ela, uma água.



- Coca diet.



- Isso.



- Certo. Os pratos virão em um segundo.



Ele saiu por uma porta de madeira escura e eles repararam que estavam sozinhos no cômodo. Realmente, e pertubadoramente sozinhos.


O silêncio começou a incomodar e ela,


ainda animada com a mudança de hábitos, puxou um assunto qualquer do qual também não me lembro.



Como o garçom disse, em poucos segundos começaram a aparecer as pizzas. Como eles comeram. Quem olhasse de fora diria que estavam apostando, pois cada sabor novo eles botavam no prato e engoliam rapidamente. Maxinelli, Peutorri, Trazzierro; o preferido dela até então era o Petioszo ao papo. Claro que não teria classe nenhuma pedir a explicação do nome dos pratos, já que pareciam sofisticados demais.



Mas lá para o final da noite, ele não conseguiu segurar a curiosidade e, enquanto pagava a conta, perguntou ao garçom:



- Ei, amigo. Estava tudo muito bom. Qual o segredo do cheff?



- Ah, senhor Burtton, não posso dizer.



- Nem para mim?



Riu-se orgulhoso, olhando para a namorada-sem-nome e depois para o garçom, novamente.



- Não... Principalmente.



- Porque não?



- Pois o senhor entenderia o esquema todo de vez.



- Como?



- Sabe, é uma honra recebê-lo aqui. É bem irônico, também, ao gosto do cheff.



O casal não estava entendendo nada.



- O que você está dizendo?



- Todos aqui gostamos muito do seu filme do barbeiro. Aquele, Sweeney Todd.



- Isso é alguma brincadeira? Tem alguma câmera escondida?



- Não e não.



Rindo-se novamente, ele brincou, lotado de sarcasmo, dirigindo-se aos animais empalhados:



- Ora, vejam todos! Estávamos comendo carne humana e nem desconfiávamos! Caramba, que máximo.



O garçom, não se deixando abalar pelo comentário dele, concluiu em um tom muito educado:



- Bom, senhor... Bacon eu posso lhe garantir que não era.



Daí saiu pela porta de madeira escura de novo. Ele não sabia bem o que dizer para não parecer um completo palhaço na frente da namorada nova. E dessa vez o silêncio realmente estava incomodando. Com todos aqueles animais no teto, nas paredes e até em algumas mesas, pelo menos não se sentiam sozinhos. Mas mesmo assim nunca mais voltaram para comer o Cerréble.

Ps da autora: Fome?

21.6.09

Verdade... Dói?



Admito que o parque estava lindo. Todo o resto era maravilhoso, mas era fato consumado que eu só tinha olhos para o Alex. Não me lembro direito o que ele falava, mas todo o caminho ao redor do lago do parque foi o passeio mais agradável que eu já fizera.

Ainda bem que ele não é como a maioria dos homens. Ele não se importa com meu ciúmes e nunca, nessas duas semanas de namoro, me chamou de chata. O que é obviamente um grande avanço para o meu banco de dados de relacionamentos.

Acho que depois do parque ele provavelmente me chamará para um jantar romântico e depois vamos para o apartamento dele na 19 com a FelixStreet. Graças a Deus tive a iluminada ideia de pôr minha blusa rosa hoje. Todos sabem que minha blusa rosa arrasa.

- Então Amanda... Estive pensando sobre nós. Sabe, acho que as coisas andam muito...

- Maravilhosas! Fantásticas, eu diria.

Adoro completar frases.

- Acho que sim. Na verdade eu queria arranjar um jeito de te dizer que...

-" Que "?

-... Você quer um sorvete?

- Sim, claro. Vamos lá.

- Não! Quer dizer, espera aqui que eu já volto. Sente-se.

Eu me sentei e o observei caminhando com sua 'meia-corridinha' de quem tem certa pressa mas não quer sair correndo como um louco. Será que ele vai adivinhar que eu queria um sorvete de limão diet? Ou talvez ele traga uma única casquinha para nós dividirmos.

-

Nossa, ele deve estar procurando o melhor sorvete do parque, ou está em falta. Já está quase anoitecendo e isso é horrível, pois eu estava justamente planejando nosso primeiro crepúsculo juntos.

-

Não é possível! Anoiteceu, o parque esvaziou e ele ainda não voltou! E que tipo de gente não atende o celular tendo 32 anos e sendo um executivo? Meu Deus... ele pode ter sido assaltado. Talvez eu devesse comunicar a polícia. Vai ver é realmente algo grave, preciso fazer alguma coisa. Droga! Logo hoje, nossa noite especial onde eu mostraria a ele que sou realmente uma mulher para a vida toda.

-

É isso. Liguei mais 10 vezes (DEZ) e ninguém atendeu. Ele está oficialmente desaparecido e eu estou oficialmente com frio! Vou procurá-lo eu mesma, antes de ligar para a polícia. Ele não gostaria de um escândalo.

Opa! Meu celular tocou, deve ser ele avisando de um telefone público o que lhe ocorreu. Adoro esse meu toque da Paris Hilton.

- Alô?

- Vai para casa, minha filha.

- Ahn?

- Desiste. Ele não vem.

- Quem é?

- A autora do conto.

- A autora do trote, você quer dizer.

- Não, do conto mesmo. Esse em que você é uma personagem feminina típica que é sempre chamada de 'chata'.

- Se você ligar para meu celular de novo, eu denuncio seu número. Odeio trotes assim. De qualquer tipo. Sei lá.

- Tá... vamos dificultar, então. Seu namorado não foi comprar sorvete. Ele quis fugir de você já que não consegue terminar. O que é bem babaca, por sinal.

- Oh meu Deus... Como você sabe disso tudo? Quem é você?

- A autora, já disse. Olha, só to te dizendo tudo isso porque eu sou uma dona-da-história muito legal e tive pena de deixar você descobrir tudo sozinha. Sabe, certas coisas é melhor ouvir de alguém. E depois... Não quero ninguém gripado por ter ficado no sereno espirrando no meu conto.

- Saquei, queridinha. Você é amante do Alex, não é? E quer estragar tudo entre nós.

- Oh, budega! Não sou. Eu controlo sua vida (é bem legal, na verdade). Olha, agora vai passar um cachorro com uma coleira neon na frente daquela árvore.

- Caramba! Como você sabia?

- Preciso mesmo repetir?

- Tudo bem. Então é tudo culpa sua! Porque tinha que estragar tudo para mim? Podia muito bem ter feito um Alex apaixonado e rico. Não só rico.

- Ah... As coisas são assim mesmo. É o que deixa a vida apimentada. Sinto muito.

- Sente coisa nenhuma. Sei porque disso tudo. Você é que é a mal amada aqui e está estragando minha vida com sua 'pimenta' idiota. Olha só, sem filosofia de Woody Allen para cima de mim!

- Bom, talvez eu goste de um desabafo! Sou um ser humano também. Espera que tudo o que eu escreva sejam flores e homens gatos caindo do ceu?

- Claro. Seria muito mais legal. Mas você não fará isso porque está viciada demais em seu drama intelectual de textos alternativos. Borring. E também eu sei que você veio aqui revelar que ele foi embora porque não sabia como transpor isso pelo meu ponto de vista sem ficar clichê.

- É, parece que vou ter que continuar estragando a vida das minhas personagens.

- AH! Minha barrig... Sua maldita! Eu estou parecendo a Preta Gil!

FIM

-


Eu tentei ser legal, mas acho que não consigo. :(
:)

19.6.09

sky-messenger



JL:
Paul?

PM:
Sim, sou eu.

JL:
Paul! Quanto tempo!

PM:
Quem é? Esse é o messenger para trabalho! Você é um beatlesmaníaco?

JL:
Não, parceiro! Sou eu, John Lennon!

PM:
Olhe, se você tem uma fixação nele, tudo bem. Mas respeito!

JL:
Calma... sou eu. Do além. Pergunte alguma coisa bem 'nós' e eu lhe provarei!

PM:
Muito bem... Qual a mensagem subliminar da capa do disco "Abbey Road" ?

JL:
Fácil. Tentávamos sempre fazer parecer que você já tinha morrido. Então, botamos você descalço e com o joelho ao contrário. Tinha também um carro que estava na direção contrária e parecia já ter atropelado você. Sem contar o carro funerária do outro lado da rua. Se a pessoa reparasse, além de tudo, eu seria o padre e o Rindo e George estariam levando seu caixão.

PM:
John... Mas, como?!

JL:
Apple.

PM:
Maçã?

JL:
Não, estúpido. Computadores de alta tecnologia. Sabe, aquele cara da Apple fez um notebook com serviço divino. Ele foi contratado porque estávamos todos muito entediados.

PM:
Isso é incrível! Até que enfim, vou poder descobrir como é depois de morrer e matar as saudades de você!

JL:
Nem me diga. Aqui é um tédio tamanho que outro dia me peguei tentando baixar músicas nossas, mesmo. Só para matar a saudade. Vi fotos minhas no Google e finalmente entendi como é ter um orkut.

PM:
VOCÊ TEM UM ORKUT DO ALÉM?

JL:
Sim, mas todos lá acham que sou um fake ou alguma coisa assim. É muito complexo.

PM:
Sei como é isso. Em alguns países PM = Polícia Militar,então não desconfiam do meu msn.

JL:
Somos mesmo os reis das mensagens subliminares. Você acredita que ainda acham que você é um sosia de você mesmo?

PM:
Eu sei, pois é! Nada como um marketing macabro para vender.

JL:
Quem me dera ainda estar aí.
PM:
Você não perderia muita coisa. As pessoas ainda cantam 'Imagine', mas parece que a única coisa que elas imaginam é uma grande banheira de dinheiro.

JL:
O que não seria tão ruim. Quer dizer, toda aquela coisa hippie e cabelo grande acabou me matando, literalmente.

PM:
Antes morrer assim que atropelado por uma moto.

JL:
Como?

PM:
Ah, qual é! Você nunca viu alguém parecido comigo aí no 'céu com diamantes'?

JL:
Sim, mas achava que era saudade.

PM:
Pf, você e a sensibilidade. Olha, John, acho que você deve saber. Quando boatos da morte do Paul saíram, todos foram enganados, inclusive a banda. Ele realmente morreu e eu sou seu sosia.
JL:
...
PM:
É, isso mesmo! E tive que aguentar vocês bolando malditas mensagens óbvias em músicas como 'All you need is love' só para fazer vender.

JL:
E você me diz isso agora? Depois de tanto tempo?! Podia ter passado a eternidade sem me achar um idiota e saber que meu melhor amigo morreu sem eu sequer me dar conta!

PM:
É o preço da tecnologia.

JL está offline


17.6.09

Até mais, senhora

Campainha tocando. Era tudo o que ela precisava, bem no meio do Notícias da Noite ,alguém, que com certeza não seria mais que um entregador, interrompia.
Pelo menos seria uma mudança. Ninguém visita a Joana do setor de atendimento, desde que ela se mudara de sua cidade natal, para a beira de uma estrada, onde vivia praticamente isolada.
As vezes é simplesmente difícil se relacionar com as pessoas, principalmente se você cresceu entre bois e tortas de maçã. Mas isso tudo não vinha ao caso. Melhor atender logo e voltar ao sofá velho da sala da sala.
- Quem é?
- Entregador.
Claro. Grandes surpresas para essa noite especial de sexta-feira. Um encontro de 5 minutos com o entregador. Pior que devia ter algum mal entendido nessa história. Joana não se lembrava de ter encomendado nada. E que tipo de entrega é essa no meio da noite?
Olhando pelo olho mágico, parecia um cara normal. Abrir a porta.
- Sim?
- Boa noite. Senhora Joana Kneth?
- Sim.
- Aqui está seu caixão Morbidus 2000.
- Meu o que?
O homem parecia muito magro para suas roupas e muito simpático para seu serviço de entregador noturno. Mas, mais estranho ainda, ele estava lhe dando um caixão! Aqueles, onde colocam e enterram os mortos. Mesmo que eu fosse me matar ou matar alguém, não pediria em casa. Que coisa horrível. Certamente era uma brincadeira de mal gosto e dentro do dito cujo teriam várias espigas de milho estilo Clark Kent.
- Seu caixão. Veja, é uma belezura. A senhora tem muito bom gosto. Pode assinar aqui, por favor?
- Deve haver algum mal entendido.
- Não.
- Sim.
- Você é Joana Kneth?
- Sou, mas nunca encomendei caixão nenhum.
O homem soltou uma risada abafada, como se tivesse achado graça, o que deveria ser pelo fato deu estar bancando a idiota de novo, quando alguém me sacaneia.
- Oh, não. Tenho certeza que não foi a senhora quem encomendou. Mas é seu. Assine.
- Não vou assinar nada! Ora, veja só! Bater aqui em casa a essa hora para brincadeiras!
Já ia fechando a porta, cheia de indignação e uma bola no estômago quando o homem, estendendo seu braço magricela, a impediu.
- Desculpe-me, mas não é brincadeira. Estou apenas fazendo meu trabalho e gostaria que a senhora me ajudasse a voltar logo para casa. Você pode tentar se livrar do caixão, apenas deixe-me completar a tarefa.
- Certo, que seja.
Papéis assinados, caixão posto para dentro de casa e ela pôde finalmente voltar para seu programa. Esqueceu de se despedir do entregador, mas pela rapidez que ele foi embora, estava realmente afim de terminar o turno. Quer dizer, quando ela acabara de arrumar um espaço para o caixão, ele já havia sumido.
Quem poderia ter planejado E concluído uma brincadeira como aquela? Não era uma coisa boba; na verdade era bem macabra. Joana estava sozinha, comendo macarrão de microondas e assistindo a um jornal noturno com um caixão que tinha uma presença fria e desconcertante. Ou talvez seja só sua imaginação, já que caixões não costumam ter uma presença.
Sentou no sofá e via a TV. Mas sua cabeça estava a alguns passos atrás, onde jazia seu mais novo companheiro. Era estranho demais para ser verdade. Alguém realmente desejou esse momento. Nota-se pela qualidade da madeira do caixão. Tinha uma cruz de ouro cravada e um acabamento perfeito. Não resistiu e foi conferir dentro (jurou a si mesma que se tivesse alguém com uma câmera ela se fingiria de morta).
Mas estava vazio e acolchoado com um veludo grenar muito macio. Relmente macio. Chegava a soar como uma boa ideia dormir ali dentro.
Esses pensamentos a assustaram. Um golpe de ar frio passou pela janela e a fez estremecer. Será que a pesssoa que fez aquilo a estaria observando agora? Tirou a mão do veludo, sentindo que ele podia sugá-la a qualquer instante e ligou todas as luzes.
Foi na cozinha beber um copo d'água, perguntando-se como dormir com Ele, cuja presença tamanha impedia de ser chamado somente como 'caixão', ali no chão do hall.
Perdida entre o 'ligar para alguém' e o 'não tem para quem ligar' ela ouviu mais uma vez a campainha. A campainha. Tocando. De novo.
Com a mão trêmula e ainda segurando o copo, agora vazio, ela abriu a porta relutante, sem ao menos ter perguntado quem era.
- Oh meu deus! Agora eu entendi tudo, senhora! Por favor, perdoe o Jonas aqui, ele confundiu as fichas!
Era o mesmo entregador de antes. Ele foi entrando apressado e falando coisas que Joana nem conseguia ouvir direito, devido a sua voz falha.
- O que aconteceu?
- Eu confundi. Não era a sua vez de receber o caixão, por favor, me perdoe. Ele devia estar na casa da senhora Kenny. Não se preocupe, vou levá-lo daqui e a senhora poderá voltar ao Notícias da Noite como se nada houvesse acontecido essa noite.
Pegando Ele, como se fosse uma pluma de tão leve, foi arrastando para fora de casa, com o olhar fixo na rua. Por algum motivo, Joana ficou brava. Ela queria Ele lá; gostara de sua presença.
- Espere. Como você sabia...?
O riso rouco ecoou novamente, agora com um tom ameaçador.
- Você o terá de volta. Eu volto com ele quando for sua hora, certo?
- Volta...? Como assim? Quem me mandou isso afinal?
E virando de costas numa vivacidade que não correspondia à sua magreza, o homem foi embora. Mas agora se despediu.
- Até mais, senhora.
E sumiu.
Ela fechou a porta e voltou para a sala. Sentou no sofá e viu a TV. Mas sua cabeça estava novamente no chão vazio, onde a um momento atrás jazia o caixão. Sua presença, agora mais mórbida do que nunca.

11.6.09

Entrevista com Dr...


- Bom dia, Dr... a revista Megazona sente grande prazer e honra em estar aqui, na sua belíssima casa, para entrevistá-lo sobre seus tempos de escola.

- Ah, sim. Meus anos dourados! Ou melhor, devo dizer, anos borrados. Sabe, eu costumava ser um grande encrenqueiro quando jovem. Eu e meus colegas, que mais tarde se mostraram verdadeiros amantes da arte da confusão.

- É verdade que o senhor estudou com ninguém menos que Lex Luthor, Magneto e Dr. Petrorius?

- Sim, obviamente. Éramos como água e vinho; sempre nos odiando. Da convivência com meus colegas, devo acrescentar, tirei lições para a vida toda. Por exemplo, o ódio e a mediocridade.

- E como era essa convivência? Conte-nos sobre o dia a dia na sala de aula.

- Bom, estudávamos todos na mesma turma no colégio CV - Comando das Vespas - e tomávamos aulas com grandes mestres como Dr. Destino e Lord Voldemort. É incrível a quantidade de doutores e mestres do mal. Em todo caso, tínhamos tudo o que o ensino médio requer: Dávamos com o compasso no olho do outro, usávamos a lâmina do apontador para tortura dos mais novos e passávamos cola por bilhetes à sangue.

- E como eram as provas?

- Sinceramente, nunca fizemos uma prova sequer em paz; o Coringa sempre dava um jeito que queimar todos os testes numa fogueira ou coisa pior. Por isso, fazíamos os exames oralmente. A cada erro, tomávamos um castigo. O meu sempre foi doar sangue aos Conde Dráculas do mundo.

- E a formatura? Tiveram festa e uma cerimônia adequada?

- Oh, lembro-me bem da formatura. Lá estava eu; um sonhador lotado de planos-Z-para-dominação-do-mundo, ao lado dos meus aliados poderosos e outros nem tanto. Já tínhamos enforcado uns 7 gatinhos e passado pela corrida por baixo da escada (Sinestro foi o vencedor). Acredite que recebemos o diploma em maldade magistral das mãos do prórpio Darth Vader em capa preta e capacete?

- Uma grande honra, com certeza. Para finalizar, que recado o senhor manda aos novatos que pretendem entrar no mundo das trevas?

- Eu digo que estou muitíssimo envergonhado com os malígnos de hoje em dia! Bafo de dragão! Desde quando já se viu vampiro se apaixonando por humano? Onde já se viu um vilão chamado Macaco Louco? Ora, precisam de boas horas numa masmorra para aprender a fazer o Vilanismo como a tradição diz.

- Obrigado pelos momentos, Dr..., estamos muito gratos.

- Grato está Capitão Gancho. Você vem comigo para a torre de tortura.