8.8.10

Maria Fumaça


Ontem mesmo, meu bem, me peguei tricotando com uma linha, daquele cinza cor-de-fumaça, o nosso poema mal pontuado. Fiquei surpresa como o redemoinho que minhas agulhas estabeleciam com a linha, lembrou-me sua locomotiva à vapor. Parece que ainda inspiro o ar poluido da estação em que esperava, de mala e cuia, o trem. Ou melhor, esperava você. Você era bonito como um Barão ou um Conde. Sua presença se fazia penetrante em mim, como combustível, indispensável, a um motor. Queria poder sair correndo e abandonar minha bagagem de bobagens, partindo para sua realidade maquinária. Achava que meu amor era o fim da linha para você, mas era, afinal, só mais uma parada. Não fui, jamais, a dama que deveria sentar-se ao seu lado. Veja só, como envelheci mal; meus dedos são enrugados de dar dó, meu cabelo crespo parece que foi eletrocutado e meu olhar liquidou-se como um leite derramado. Seu amor acabou por ser o trem ligeiro que deixou a estação antes que eu pudesse me jogar na frente. E, você, meu Barão ou Conde, acabou sendo a fumaça que contagiou meus bronquíolos de folículo cinza. Cinza que nem essa linha do meu tricô, do nosso poema.

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