21.5.10

Avelã

Entregou os braços ao vento, que soprava forte, levando também seus cabelos cor de avelã. E seus olhos ardiam ofuscados pelo sol, a pele queimava. Ela podia ouvir o som de uma guitarra que ronronava como um felino, profanando acordes sonolentos. Sentia todas as sombras escondidas nas pequenas frestas entre as árvores frondosas.
Ela via o mundo plano e perolado. Jurava que fazia moda sendo assim, clemente de solidão. Gotículas de suor mostravam-se timidamente em sua testa. No crepúsculo, os raios de sol perdiam força, ficando mais fracos gradualmente. Já era noite de novo, e tudo nela esfriava; a pele, o olhar e o coração.
"Então chegou a hora", suspirou. Arrastada, ela vagou inerte entre os campos de trigo, penetrando ingenuamente na noite, à caminho da cidade.
Era hora de matar de novo...

18.5.10

Critério.

O porquê da comodidade morte e vida. Não faz sentido, viver por viver ou morrer por morrer, apenas. Ambos precisam pender em equilíbrio em cada olhar que significa, em cada oportunidade, em cada paixão. Assim: Viver por morrer, porque é natural, mas viver de fato. Achei graça dessas pessoas definitivas, envelhecidas e cheias de 'Dicas". Achei foi uma imensidade de negações antes do clichê de "viver cada momento antes que seja tarde". Mas que óbvio simplório; não é possível não viver momento algum, seja ele grandes coisas ou não. Somente respirar, esperar o tempo e, o que mais?, ser. Posso estar, admito, sem ânimo que me motive a procurar belos pontos de vista. Mas estes bocados de beleza me atingem algumas vezes ao dia, em todo caso. Mesmo sem energia, hoje, me sinto cruamente viva nessa indecisão de crescer. Como se eu tivesse alguma escolha em mãos. Agora, que estou na véspera de todo o resto do meu plano-base; faculdade, trabalho, fim da rotina como eu a conhecia, estou também na estréia de uma vida inédita. Cheia de quinas, de balizas e derrapadas. Riquezas sortidas e tristezas previamente sofridas e esquecidas. Posso quase sentir o cheiro, o gosto, o toque quente desse todo. Defini-lo, no entanto, é insano.

16.5.10

24h

Ele acordou para abrir os olhos e ver que o travesseiro no qual estava deitado não era o seu. Os lençois que emaranhavam suas pernas também não eram seus, tanto quanto o quarto e a mobília eram estranhos. Sua mão, quase que movida por uma força própria que fugia do resto do seu corpo, subiu até seus olhos, para esfregá-los metodicamente. Se ele decidir levantar para abrir as cortinas, não só a luz desconfortável da manhã feia de sua cidade invadiria seu quarto, como o barulho dos automóveis. Mas em lugar algum, digo, além do quarto, ele estaria tão ciente dos seus passos até aquela cama; seu passado. Em qualquer outro lugar, ele teria alguma chance de não ser nocauteado. Que se levantem as pernas, então, naquele andar sem chão do dia a dia. Café da manhã, banho, rua. Hoje gritaria como um recém nascido...

15.5.10

Etc

Tem um tanto que se esconde, mesmo nas menores coisas, que me omite o básico. Dos momentos, dos términos, dos inícios, o que deveria haver em demasia e não seria um exagero, é só penumbra e não é quase nada. Desagradável, então, esse sentimento de sentir em vão. Que bate forte quando a noite cai, quando a chuva cai, quando as máscaras caem.