29.4.09

Meu primeiro dólar

- Mas eu sou o seu primeiro dólar! Você me carrega no bolso desde que me achou na sorveteria!
- Eu sei. Só que, eu quero muito fazer esse desejo. E olha, a placa da fonte diz que tem que ser uma moedinha de grande valor. Você é muito valiosa.
- Acho que tudo bem, então. Vou sentir sua falta, meu menino. Você vem me visitar?
- Sim, claro! E quando eu conseguir o que desejei, volto e te busco!
Tendo dito isso, o menino jogou a moedinha na fonte. Lembrou de apertar os olhos bem fechados e fazer o pedido num pé só. Logo depois, ele procurou sua moedinha entre todas as outras e sorriu. A moedinha, entretanto, não estava muito feliz. Ela temia as noites solitárias, os dias quentes, sem o conforto do bolso do macacão do seu menino. Mas como era pelo bem dele, era um sacrifício justo.
O menino se despediu e foi embora. A moedinha ficou, desde já, esperando pelo dia seguinte.
Passadas 24 horas o menino voltou. Ele saltitava e contou tudo o que tinha feito naquele dia para a moedinha. Ouvindo tudo com atenção, ela se animava com cada história. Eles eram amigos, e a moedinha era feliz.
Assim decorreram os dias de verão. Nas tardes quentes, o menino sempre visitava sua companheira.
Mas daí o inverno chegou, e ele não pôde ir todos os dias. As vezes, a moedinha passava semanas sem ter notícias de seu menino, apenas esperando pelo dia em que ele voltaria.
No final da estação mais fria, ele apareceu. Ele havia crescido; estava diferente.
- Oh, meu menino! Você voltou! Diga-me que seu desejo já foi realizado, assim poderemos ficar juntos novamente!
- Não.. ainda não.
A moedinha ficou muito decepcionada, mas não deixou a alegria enorme que sentia, por rever sua criança.
- Oh... mas e o resto? Conte-me tudo!
- Não há nada de muito empolgante.
- Você continua tomando sorvete de chocolate sempre que pode? Não imagina como sinto saudade daqueles tempos.
- Eram tardes muito agradáveis. Escute...
- Sim, meu menino! Deseja alguma coisa?
- Eu queria saber se você poderia me emprestar um jatinho.
- Para que um jatinho?
- Para eu ser piloto. Quero aprender a voar... e ir para bem longe.
A moedinha ficou, derrepente, com um aperto no coração. Voar para bem longe significaria muito tempo sem ter companhia alguma. Mas tentou ajudar, em todo caso.
- Não possuo nenhum avião. Mas já pertenci a um homem dono de uma companhia aérea. O nome é Fulano de Tal. Vá tratar com ele, consiga seu jatinho.
Assim que ouviu a dica da moedinha, o menino agradeceu e saiu correndo para falar com o homem. E a moedinha ficou sozinha.
Muitos e muitos anos se passaram, até que a moedinha visse novamente o rosto do seu menino. Ele agora estava maior do que nunca, e não parecia muito feliz. Mas a moeda era dona de uma euforia que não lhe cabia!
- Oh, meu menino! Quantas saudades eu tenho de você! Por favor, apenas me diga que seu desejo se realizou e não mais terei que sentir tanto a falta que você me faz!
- Voltei pois preciso de uma família. Quero filhos e uma bela mulher.
- Não possuo nada disso, meu menino. Quem me dera poder ajudar-te!
- Bom, eu tenho a mulher e em breve, os filhos. Mas para isso, preciso de uma casa forte e bonita. Você tem uma casa assim?
- Não. Nunca tive residência alguma; passo de troco em troco desde que me lembro. Só agora que estou morando nessa fonte. Mas, conheço uma velha senhora, que um dia me trocou por um anel de plástico. Ela tinha uma casa linda, e nenhuma família. Deve estar bem velhinha agora. Diga-lhe que me conhece e ela lhe fará um bom preço! O nome é Moça.
O menino mais uma vez, tomado pela esperança que as informações da moedinha lhe deram, foi correndo com seu terno e seus cabelos grisalhos procurar o que queria.
E a moedinha ficou sozinha.
Anos e anos se passaram. Tanto tempo, que muitas das outras moedas estavam enferrujando. Mas ela continuava firme e forte, apenas esperando que o desejo do seu menino se realizasse e eles pudessem voltar a serem amigos.
Mas, quando o menino retornou, com seus cabelos brancos e pernas cansadas, sentou à margem da fonte e não pareceu querer falar com a moedinha. Apenas olhava para a água sem diferenciá-la das demais.
- Ei, menino! Não brinque assim comigo! Estou ansiosa e feliz por demais para aguentar esses joguinhos! Já faz tanto tempo! Seu desejo já deve ter se tornado realidade, certo?
- Como?
- Sou eu, a moedinha. Não se lembra mais?
- Oh, sim! Lembro... ainda recordo de quando ganhei meu primeiro dólar, disse o menino sorrindo melancolicamente.
- Diga-me; afinal, conseguiste tudo o que queria? Foi um piloto de jatinho? Teve sua família numa casa forte e bonita?
- Trabalhei como piloto, mas não de jatos. Minha família durou menos que eu desejava; nunca chegamos a ter filhos, e ah alguns anos, minha mulher faleceu, disse o menino com os olhos cheios de lágrimas.
A moedinha, lotando-se de profunda tristeza, disse ao menino:
- Sinto tanto! Mas não precisa ficar triste nem um minuto a mais! Saiba que a qualquer instante seu desejo se realizará e então nunca mais deixarei que fique sozinho!
- Sabe, disse o menino após uma longa pausa, agora eu acho que tudo que queria era poder tomar um sorvete de chocolate. Como aqueles que tomávamos juntos, quando eu tinha 10 anos.
- Oh! Então, venha! Venha buscar-me agora mesmo! Posso não ser útil em muita coisa! Mas aqui do lado da fonte, recentemente, foi construída uma sorveteria! Um sorvete não deve custar mais que um dólar! Compre um sorvete para você comigo, e seja feliz.
A moedinha estava rediante ao dizer cada palavra. Era alegria tamanha que não cabia naquela fonte. Nem em lugar algum.
E foi o que o menino fez. Ele enfiou o braço e pegou sua moedinha, trêmula pelo contato com seu amado após tantos anos na água fria. Ela, então, fez-lhe uma última pergunta:
- Qual fora seu desejo? Aquele, de tantos anos atras?
- Ora, era apenas um carrinho.
- Mas um carinho é muito importante para um menino!
O menino ouviu e, aparentando estar muito cansado, despediu-se da moedinha e comprou seu sorvete. Enquanto ele o tomava, ela imaginava, no caixa da sorveteria, o dia em que o destino a levaria de volta ao seu menino.

23.4.09

'Morte' está enviando convite para participar do chat

- Milinhaa * (L) diz:
oii quem eh vc?

- Morte diz:
Morte. Você é Camila da Silva?

- Milinhaa * (L) diz:
HIHIHIHIH.. soh meus pais mi xamam axim.. quem eh vc afinal?

- Morte diz:
Sou a Morte, já disse.

- Milinhaa * (L) diz:
esi naum podi ser o seu nome msm...... mas td bein, ja tivi amigos de apelidu comu 'nhonho' ou 'maconha'... hihihih :)
da ondi eo conhesu vc?

- Morte diz:
Ninguém me conhece, até que seja tarde demais. Escute, o que você faz durante a semana?

- Milinhaa * (L) diz:
HIHIHIHIH.. pq vc quer saber? :p

- Morte diz:
Porque preciso encontrar você pessoalmente, mas nunca consigo. Estudei sua agenda de compromissos, mas a cada dia é uma aula nova e estou ficando velha para guardar tantas informações. Diga-me, Camila da Silva, quando tens tempo para mim?

- Milinhaa * (L) diz:
IHIHIHIHIH... vc é mulher ? axei q fossi homi..

- Morte diz:
Posso assumir o corpo de qualquer criatura que eu desejar.

- Milinhaa * (L) diz:
IHIHIIH entaum axu q vc eh a morti mesmu.. OOH que medinha x)

- Morte diz:
Não preciso provar nada a você. Quando podemos no encontrar! Diga de uma vez. Não tenho tempo, há outras pessoas!

- Milinhaa * (L) diz:
soh digu depoix q vc respode umas coisinhass :p

- Morte diz:
Rápido.

- Milinhaa * (L) diz:
quantus anos vc tem?
quem ti deu meu emiesieni?

mora ondi?
solteiro ? hihihih :p

- Morte diz:
Não tenho vida para ter idade, mas existo desde que o sol nasce e se poe, e as pessoas vivem e morrem. Sou encarregada do departamento humano. Não venha buscar bichos.
Ninguém me deu teu msn, está no meu banco de dados, e, ultimamente, tenho tido a necessidade de usa-lo cada vez mais com os jovens. É cada vez mais difícil fazer meu trabalho.
Moro na sua sombra e sou sozinho.

- Milinhaa * (L) diz:
oooooooooin. sozinhu? entaum foi por issu q vc mi add! pq tá carenti ^^ e eu gostu di mininus misteriosus.. tipo, eu to livre na sexta dps da aula de frances

- Morte diz:
Sim... é mesmo! Agora que eu vi o espaço em branco entre a aula de francês e... sair com os amigos?

- Milinhaa * (L) diz:
eeeh isu mesmu! hihihihi vamus pro shop neh?

- Morte diz:
Em lugares públicos é menos discreto... Mas por mim, tanto faz.

- Milinhaa * (L) diz:
intaum ta combinadu! a genti si encontra no shop lah pelas 7 h.. eu vo tah com 1 vestidinho rosinha ;) hihihihi

- Morte diz:
Até.

- Milinhaa * (L) diz:
esperaaaaa!!!! jah q vc pode virar tuduu.. pode ir de felipe dylon? *-*

- Morte diz:
Já disse que tanto faz. A morte é sua e não minha, só quero acabar logo com isso.

- Milinhaa * (L) diz:
AAAAAH entao tah! -morri
bjux :*

Morte está offline.

22.4.09

Que venham as manhãs!

No outono, as folhas secas caindo piedosamente sobre a cabeça dos velhos,
a brisa gelada ao entardecer,
bege, e o rosa.
Na primavera, a cor, a flor e o amor.
Os exageros que me convém,
as brincadeiras, a alegria.
No inverno, novamente a brisa,
mas agora mais forte.
Ar em movimento,
tirando tudo do lugar;
arrumando de uma maneira nova.
A melancolia das manhãs sem sol,
trazendo nada além de paz.
E, no verão,
que venham as manhãs.
Suave e morno,
com banhos de piscina
com limonadas e sorvete.

Podem vir, também, os pingos de chuva
tímidos ou cruéis,
surdos e mudos.
Deixe que lavem o que houver para se lavar,
que transbordem tudo o que minha alma retém.

E de novo, e de novo.
Serão dias de glória!

18.4.09

O Turbilhão da vida

Ao som do violão
Eles se encontram no salão
Ele sorri de canto
Ela acena com a mão
Eles saem separados
Cada um para um lado.

Ao som do violão
Eles se encontram novamente
Ela vestida de rosa
Ele desejando uma rosa
Pela primeira vez se falam
Ele gagueja, ela ri
E mais uma vez saem separados.

Passou-se muito tempo
Ele esqueceu-se dela,
teve outras mulheres,
perdeu-se entre todas.
Ela viajou o mundo,
se encontrou nele.

Depois de uns anos,
andando na rua,
se esbarraram,
se olharam,
ele sorriu, ela corou.
Tomando coragem, a chamou para um chá,
e partiram juntos.

Passaram muito tempo,
a conversar.
Quem diria, quem dirá,
sua pele macia
seu jeito de rapaz.

Ele empenhou-se a conquistá-la
Ela se deixava levar
Beijaram-se em um belo dia,
estavam apaixonados.
Ao som do violão,
Namoravam,
nunca mais saíram separados.

Passou-se muito tempo
ah, meu Deus!
Tudo se tornou tão ordinário,
a pele macia emudecia
ele nunca mais tornou a beijá-la.
Saíram separados,
quebrados.

Depois de uns anos,
andando na rua,
ele a viu caminhar,
tão bela, tão rica
tão jovem, tão nova.
Não pode conter,
correu para lhe ter.

Ela se deparou com seu amado,
sorrindo animado.
Tirou suas luvas,
sorriu levemente,
beijou-lhe a face.

Ao som do violão,
encontraram a si mesmos.
Sorriram em paz
e seguiram separados,
pela última vez.
Haviam se libertado,
juntos.

17.4.09

Seu último truque

E dedico a ti
todo esse meu encanto,
que somente em tom de tua presença,
é capaz de tornar o mundo ao teu redor...
tão insignificante.

Não saberei como aconteceu, de certo.
Mas dedico a ti,
à tua ingênua magia.
Como se houvesse algo mais nesse mundo,
se não o feitiço que me rogas.

E só o que posso fazer,
é dedicar a ti.

13.4.09

E o continente

"Enquanto me ocupo da escrita desses pequenos contos, tento esquecer-me de Muriel. Seus cabelos, sua pele, seus olhos e seus cheiros; não os quero perto. Anseio pelo dia em que não mais me atormentará aquela mulher, que prometeu-me seu amor. Havia superado parte dessas dores, quando Ana, sua irmã, veio abafar-me novamente com o passado. Com uma conversa fiada de que eu a havia abandonado. Como se pudesse ser-lhe fiel após um ano inteiro com um continente entre nós. Não o seria; sou humano. Nossas familias sabiam bem disso quando nos impuseram essa infeliz cláusula no acordo de nosso casamento. Matrimônio esse que agora é intocável.
Teria eu apenas 17 anos. Estaria em Paris, de coração partido e com uma vida plena borbulhando à minha frente. Não fui irracional ao aproveitar cada minuto de gozo que me era oferecido pelas mulheres que passaram por mim. Não me arrependo de ter-me fechado para Muriel, embora pesasse no meu coração imaginá-la intocada à minha espera, naquela ilha onde nunca mais pisaria.
Que direito tem Ana de vir-me dizer como acabei com a vida de sua irmã, agora cega pelas desilusões que eu supostamente ocasionei.
Éramos tão jovens para prever tudo isso. Seríamos sempre inocentes da culpa de acreditar que um ano sem contato algum seria nada ao nosso amor. Seria como o assoprar suave em uma brasa mantida dia a dia, mas nunca foi. Todos sabiam disso, menos nós, pois a juventude não apresenta o que fuge do romantico. Quantas saudades de ser aquele garoto, ansioso por cada emoção e lotado de medos. Deus, como éramos novos. Nada era conhecido o bastante para ser entediante, mas dominávamos o mundo velho de nossos pais e tios chatos.
Oh, Muriel! Se nosso amor fosse nos dias de hoje, jovem como éramos no primeiro momento em que nos vimos. Poderia ser fresco, leve, suave e morno como as manhãs sonhadas juntos. Uma a uma, perfeitamente arquitetada por nossas mentes dementes de razão.
Mas, agora... como estou velho!"



Esse pequeno texto é fictício. No filme, Truffaut não nos mostra as emoções de Claude, ao ter que abandonar Muriel e, no meio do caminho, abdicar de coração dos sonhos que por ele foram defendidos meses antes.
Mas eu imagino seus dilemas; apaixono-me frequentemente pela beleza desse filme.

Por isso, resolvi dar voz ao "meu Claude" e contar suas dores, também existentes.

"Duas Inglesas de o amor", um filme de François Truffaut- o mesmo diretor de Jules et Jim- está na minha lista pessoal de obras primas francesas, merecendo sem sombra de dúvidas a crítica de um romance sobrevivente ao tempo, e às mudanças da sociedade.