8.7.09

Silêncio



Recentemente adicionei à minha lista de palavras não ditas, mais uma palavra calada. Ela não pôde ser nada além do que eu pensei, e então, nada foi. A palavra ficou magoada e agitada. Debatia-se toda irritadinha querendo sair. Mas mesmo assim eu não falei, e não a fiz ser ouvida.
Agora ela me cobra. Quer seus direitos e me enfrenta sempre, exigindo minha voz.
E outra vez, eu não paguei. Calei novamente, porque não estava nem aí. Mais parece que as sufoquei.
Vou a julgamento e espero pela melhor pena possível. Quando cheguei ao tribunal, não havia um só sussurro. Jurei contar a verdade e somente ela, com a mão sobre um discionário da línga portuguesa. Mas quando fui me justificar, deixar que todos soubessem meus porquês, nada consegui juntar. Em ato de vingança, as palavras agora não compareceram. Acho que simplesmente viraram as costas para mim, no momento em que elas me eram fundamentais.
Fiquei desamparado. Perdido entre a incapacidade de reunir palavras e formar minhas frases, e a possibilidade de ser condenado a nem sei o que. No fim, emudeci. Acabei sendo preso, sem nenhum testemunho, nem sequer o meu.
Agora, sempre que posso, tento usar as palavras. Falar em voz alta, mesmo quando sozinho ou sem assunto. Solto as palavras que não fazem mais muito sentido aos quatro ventos, e elas agem solitárias. Resolvi fazer de minha voz um bem público sem saber se é certo ou errado. Quem quer ler um livro aberto, se ele estiver escancarado?
Aprendi a minha lição; eu digo e grito mas o significado me foge. Repito, todos os dias, o quão grande é o mistério das palavras.

2 comentários:

  1. tá ficando mais difícil escolher o seu melhor texto. adoro aquele do primeiro dólar, mas esse... parece que você lê minha mente, às vezes, sabia? quer parar com isso? mentira. não queira. não pare.

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  2. Eu tenho problemas no léxico =S
    esqueço palavras idiotas

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