16.3.09

CINEMA PARADISO


Noutro dia, passei pela rua perto da casa onde cresci. É uma rua pouco movimentada. Antigamente tinha árvores, que na primavera se enchiam de flores.
Encantava-me passar pela calçada enfeitada e olhar as casas. Eu morava em uma delas.
Quando passei por ela pela última vez, não havia flores no chão, e muitas casas, inclusive a minha, haviam sido derrubadas.
Senti uma nostalgia que não sei como descrever. Como se houvesse dois mundos dentro de mim: futuro e passado. O segundo sempre me parece mais sedutor.
Quando cheguei em casa, no mesmo dia, ainda me sentia saudosa, melancólica, lembrei-me muito de um filme em especial. Trata-se da primeira produção italiana que falarei aqui: Cinema Paradiso.
Com uma atmosfera simples, o grande vencedor do Oscar de 1990, conta a história de Totó, Alfredo, e acima de tudo, mostra a beleza da vida. Da paixão, da amizade, do amor e das coisas que sacrificamos pelo nosso futuro.
Resumindo, Totó aprende com Alfredo, na cabine do Cinema Paradiso, valores que ele levaria para sempre, junto com uma amizade inabalável. Ao ficar mais velho, depois de sofrer a primeira desilusão amorosa, Totó segue para Roma para tentar carreira. No dia de sua viagem, Alfredo pede a Totó que nunca retorne. Ele nunca deveria deixar a saudade atrapalhá-lo.
Então Alfredo diz minha fala favorita em todo o filme: "Temos que estar muito, muito tempo longe para que voltemos e encontremos novamente nossa terra... nosso povo."
Pergunto-me se é isso que acontece comigo. Se apenas quando estiver bem mais velha, mais vivida, voltarei à minha rua e verei novamente as flores pelo chão, as casas que um dia me pareceram tão familiares.
Acredito que isso venha a acontecer, como creio que, para isso, seja necessária uma mudança dentro de mim mesma. Mudança essa que só perceberei quando já tiver acontecido, que me fará sentir falta de quem eu era; chorar ao ver fotos antigas, sentir-me realmente velha ao olhar-me no espelho e, o mais importante, poder ter a certeza de que, lá no fundo, sempre guardarei o que foi mais marcante.
As pessoas que amo hoje, os lugares que me fazem sentir bem só de estar. Isso espero nunca deixar para trás. Perdemos tanto no caminho, que apenas percebemos o que fica, depois de nos acharmos realmente.
É o que julgo acontecer com Totó, ao voltar já um homem para a cidade onde crescera, e se deparar com fantasmas; os antigos amigos, os pequenos detalhes que a ele foram únicos... e o Cinema Paradiso.

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