1.4.11

Síndrome do vagão lotado

Outro dia foi dia - e que dia - de momentos que simplesmente não se entende. Nesse dia eu estava no metrô, lendo sobre o Grande Meaulness, e senti um par de olhos em mim. Senti que era vigiada, levantei a cabeça e esbarrei com um rosto dormente de um homem idoso que me olhava tão firmemente que eu quase levantei. Depois de um segundo de desconforto, aqueles olhos saíram de mim. A partir daí tudo naquele vagão me fitava, e eu fui sufocada pela visão alheia. Sem saber o que fazer, resolvi concentrar-me em minhas mãos, mas então minha nuca foi curvada, mais uma vez, pela presença virtual de um olhar. Procurei, vi retinas, globos oculares, lentes, cores, íris. Senti vontade de sair correndo no abrir de portas seguinte, sem saber qual era a estação. Segui aliviada pela roleta, porta, e estava livre novamente. Os olhares murchavam e caíam das minhas costas, jaziam no chão. Derepente, abri os olhos e percebi que havia adormecido, acordara no ponto final e todos os demais passageiros não estavam mais no vagão. Eu não era olhada por ninguém, tinha certeza, e pude voltar à razão. Caminhei para fora me concentrando no pesadelo que ainda não se despedira da minha mente, e ri de mim mesma. Passei, então, por um espelho e, ao me ver andando, senti uma vontade gritante de correr.

Um comentário:

  1. É... Talvez o olhar que mais nos aflija seja o nosso próprio.

    Saudades do blog e da blogueira. Tá tudo lindo aqui, adorei. As cores, a fonte, e o texto, claro :)

    Beijo, foca.

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