8.4.11

Maresia

Quais são os momentos da minha vida dos quais eu me lembrarei? Queria poder saber quais as memórias que me farão sorrir sozinha, olhando para uma noite aleatória por uma janela. O que me fará ficar séria, séria de tanto querer reviver. Anseio já pelo nome sagrado da minha nostalgia, do meu 'omelete de amoras'. Gosto de pensar que é o cheiro de 'linzer', as flores cor de rosa na rua da colina, onde antes tinha a casa da qual me mudei até hoje não sei porque. Penso que serão os docinhos da Cavé, os passeios perdidos pelas ruas do centro da cidade, o Gabinete Português de Leitura, sempre com meu pai. Sinto as viagens de carro com minha mãe para praias vazias, só com mar e mata atrás, o cheiro de maresia, as comidinhas no quarto de hotel, as aventuras por vilas de pescadores conversando com pessoas cujos nomes não me importa saber. Gosto de imaginar-me velhinha, antes de dormir, sacando meu álbum virtual na minha mente, e vendo as cantorias no carro, meus sonhos quebrados, meus amores espontâneos e imaculados. No canto das dores, vejo a pscina do clube Municipal, onde tomava aulas de natação, sob a luz do luar e a luz da sala de dança logo à frente; meninas de fru-fru treinavam seus 'pliés' e eu olhava e esperava, tão em vão que nem sei como esperar, sonhava trocar meu maio sem graça por um collaint como o da Svetlana. Pessoas que eu perdi, coisas que eu perdi, promessas que eu perdi. Há, sim, um grande prazer em se render ao lugar mágico onde rezide aquela parte de mim que já foi no tempo, aquela parte do tempo que já está em mim. Mesmo doendo, não machuca. Mesmo me roendo de paixão, como poderia sumir, ou algum dia desejar não tê-lo, anseio de ter o passado em minhas mãos. Não excluo o amor pelo futuro e ainda mais pelo presente, mas como é bom passar o dedo pelos cachos dormidos de uma vida vivida. Quem sou eu, aqui com 18 anos, falando de nostalgia?

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