24.6.09

Ironia




Como todo gordinho, ele adorava ir a rodízios de pizza. Todos aqueles sabores diversos e deliciosos, o ambiente e o refrigerante diet. E como toda sexta-feira, aquela não poderia passar sem a programação favorita. Então, foi ele e a namorada nova, que sinceramente não me lembro o nome. Mas o fato é que a namorada-sem-nome estava entediada daquela rotina de Pizza's Roo; o restaurante que o namorado sempre ia com ela.



Tudo bem não ser o jantar francês à luz de velas que ela imaginava, mas conhecer os garçons por apelidos íntimos já é demais.



- Vamos tentar um lugar diferente hoje, amoreco.



- Porque? Pizza's Roo é tão bom.



- A gente poderia ir lá de pijamas e acampar no terraço com os filhos do dono de tanto que vamos lá.



- Você também pensou nisso?



- Por favor! Só hoje!



- Mas...



- Por mim!



Houve um momento de pausa onde muitos pensamentos polêmicos passaram pela cabeça dele. Traição, fome, incerteza e muita fome. Bom, parece que valia a pena tentar.



- Vamos.



Ela comemorou animada. Na verdade, se olhando por um ponto de vista positivista, aquilo poderia ser o começo de um mundo diferente nas sextas-feiras.



Não sabiam em qual ir, então foram passeando pelo centro até achar alguma que lhes agradasse. Não seria difícil; na cidade grande tem sempre muito de tudo. E foi mesmo um assombro quando encontraram um lugar aconchegante e com um cheiro maravilhoso (que com certeza foi o fator de escolha decisivo) saindo da chaminé, bem afastado da confusão.



Estacionaram e entraram procurando uma mesa longe da janela, como sempre, para evitar os paparazzi. Veio um garçom, que não parecia muito bem, ascender uma vela vermelha que em poucos segundos iluminou minimamente o ambiente, mas deu um toque mais elegante.



O restaurante todo era muito peculiar. Animais empalhados enfeitavam as paredes, também avermelhadas, e havia uma decoração toda voltada aos maiores diretores de cinema; Antonioni, Truffaut e Felini.



Ele sentiu uma pontada de inveja. Ou ciumes, também, já que sua foto não estava presente com as demais. Mas pouco importa, ele era muito alternativo para aquilo tudo.



- Vão querer o rodízio?



- Sim, por favor. Eu vou beber uma cerveja e ela, uma água.



- Coca diet.



- Isso.



- Certo. Os pratos virão em um segundo.



Ele saiu por uma porta de madeira escura e eles repararam que estavam sozinhos no cômodo. Realmente, e pertubadoramente sozinhos.


O silêncio começou a incomodar e ela,


ainda animada com a mudança de hábitos, puxou um assunto qualquer do qual também não me lembro.



Como o garçom disse, em poucos segundos começaram a aparecer as pizzas. Como eles comeram. Quem olhasse de fora diria que estavam apostando, pois cada sabor novo eles botavam no prato e engoliam rapidamente. Maxinelli, Peutorri, Trazzierro; o preferido dela até então era o Petioszo ao papo. Claro que não teria classe nenhuma pedir a explicação do nome dos pratos, já que pareciam sofisticados demais.



Mas lá para o final da noite, ele não conseguiu segurar a curiosidade e, enquanto pagava a conta, perguntou ao garçom:



- Ei, amigo. Estava tudo muito bom. Qual o segredo do cheff?



- Ah, senhor Burtton, não posso dizer.



- Nem para mim?



Riu-se orgulhoso, olhando para a namorada-sem-nome e depois para o garçom, novamente.



- Não... Principalmente.



- Porque não?



- Pois o senhor entenderia o esquema todo de vez.



- Como?



- Sabe, é uma honra recebê-lo aqui. É bem irônico, também, ao gosto do cheff.



O casal não estava entendendo nada.



- O que você está dizendo?



- Todos aqui gostamos muito do seu filme do barbeiro. Aquele, Sweeney Todd.



- Isso é alguma brincadeira? Tem alguma câmera escondida?



- Não e não.



Rindo-se novamente, ele brincou, lotado de sarcasmo, dirigindo-se aos animais empalhados:



- Ora, vejam todos! Estávamos comendo carne humana e nem desconfiávamos! Caramba, que máximo.



O garçom, não se deixando abalar pelo comentário dele, concluiu em um tom muito educado:



- Bom, senhor... Bacon eu posso lhe garantir que não era.



Daí saiu pela porta de madeira escura de novo. Ele não sabia bem o que dizer para não parecer um completo palhaço na frente da namorada nova. E dessa vez o silêncio realmente estava incomodando. Com todos aqueles animais no teto, nas paredes e até em algumas mesas, pelo menos não se sentiam sozinhos. Mas mesmo assim nunca mais voltaram para comer o Cerréble.

Ps da autora: Fome?

3 comentários:

  1. ah, viu nem foi sobre morte, e você dizendo que só está conseguindo escrever sobre morte.
    ps:nunca me convide para ir a um lugar desses.

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  2. AI QUE FODA!

    a mulher do Tim Burton se chama Helena Bonham Carter e ela é PERFEITA!
    Ok, ela é a Mrs.Lovett.

    *-*

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  3. Big Middle Brother7:50:00 AM

    Eu não gosto de pizza mesmo!
    :D
    Não me vi na pele desse gordinho danado!

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