Teria eu apenas 17 anos. Estaria em Paris, de coração partido e com uma vida plena borbulhando à minha frente. Não fui irracional ao aproveitar cada minuto de gozo que me era oferecido pelas mulheres que passaram por mim. Não me arrependo de ter-me fechado para Muriel, embora pesasse no meu coração imaginá-la intocada à minha espera, naquela ilha onde nunca mais pisaria.
Que direito tem Ana de vir-me dizer como acabei com a vida de sua irmã, agora cega pelas desilusões que eu supostamente ocasionei.
Éramos tão jovens para prever tudo isso. Seríamos sempre inocentes da culpa de acreditar que um ano sem contato algum seria nada ao nosso amor. Seria como o assoprar suave em uma brasa mantida dia a dia, mas nunca foi. Todos sabiam disso, menos nós, pois a juventude não apresenta o que fuge do romantico. Quantas saudades de ser aquele garoto, ansioso por cada emoção e lotado de medos. Deus, como éramos novos. Nada era conhecido o bastante para ser entediante, mas dominávamos o mundo velho de nossos pais e tios chatos.
Oh, Muriel! Se nosso amor fosse nos dias de hoje, jovem como éramos no primeiro momento em que nos vimos. Poderia ser fresco, leve, suave e morno como as manhãs sonhadas juntos. Uma a uma, perfeitamente arquitetada por nossas mentes dementes de razão.
Mas, agora... como estou velho!"
Esse pequeno texto é fictício. No filme, Truffaut não nos mostra as emoções de Claude, ao ter que abandonar Muriel e, no meio do caminho, abdicar de coração dos sonhos que por ele foram defendidos meses antes.
Mas eu imagino seus dilemas; apaixono-me frequentemente pela beleza desse filme.

Por isso, resolvi dar voz ao "meu Claude" e contar suas dores, também existentes.
"Duas Inglesas de o amor", um filme de François Truffaut- o mesmo diretor de Jules et Jim- está na minha lista pessoal de obras primas francesas, merecendo sem sombra de dúvidas a crítica de um romance sobrevivente ao tempo, e às mudanças da sociedade.
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