1.12.09

Faz de conta que não sei.


Eu estava errada, mas acima de tudo, era um erro inocente. Com o tempo, no entanto, parece que tudo o que aconteceu alimentava o erro. Com o tempo, devia passar, ir embora de vez, mas não. O erro ficou e se tornou indecente, quase vulgar. Por isso mesmo eu passei uma colinha nos meus olhos. Senti alguma coisa ao fazê-lo, mas só hoje entendi que foi dor. Só hoje também eu sei, que fechar os olhos foi pior do que a vista miserável que eu tinha. No final das contas, a cola passou da validade e deu lugar à uma luz ofuscante, como um sol gigante bem na minha cara. Tinha minha visão turva, que me proporcionava melhores experiências com os outros sentidos. O tato, que passou a ser uma base. O paladar, que eu tive o cuidado de aprimorar. O instinto. Que nunca me disse muito, mas está lá.
Mas eu queria o pacote completo; precisava de colírio, de óculos e lentes. Deixar de ser demente, enfim, e ver o sorriso sem dente de tanta gente que eu me negava a reconhecer como próximas a mim. E eu vi; mais que isso, eu me fiz ver.
Em tom de alívio, assim como o saber do sentido conquistado, senti outras milhões de raivas, medos e dúvidas me invadindo. Ares de outros cantos e certezas de outras vidas. Poderia ser confuso, mas foi engraçado. Foi fácil sorrir depois de pensar, e só pude pensar depois de sentir. Agora eu riria sem pudor daqueles que ignoram os próprios olhos. E seria o brinquedo mais bacana de quem não sabe brincar.

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