11.1.10

Gravidade

Alguma coisa me traz de volta, como se eu não fosse mais voltar. Tão impetuoso e adorável, exatamente do jeito que deveria ser. Liberte-me. Eu sei, agora que eu fugi, aprendi o que é a vida. Estou quase cega, portanto, liberte-me, deixe-me ir. Eu não quero me apaixonar novamente pela minha própria gravidade.
Eu entendi, que estaria aqui mesmo se você me soltasse, e isso é impossível. Mas não há um único momento, em que você não me esteja caçando, me tocando em toda parte, sufocando. Sem perdão, você me põe para baixo, me empurra. Isso não é amor, e eu não posso continuar perdendo o meu todo mínimo na sua imensidão.
Insisto, então, liberte-me. Mesmo que eu não tenha esperanças, eu peço; saia de cima de mim, pare de me prender ao chão. Se fosse bom, eu não sentiria um vazio sob meus ombros, tão mais forte do que eu. Eu certamente não me sentiria tão só, mesmo com mil vocês me abraçando.
E se eu ficar mais velha, ainda com esse peso? Minha coluna tão envergada, meus joelhos tão caóticos... e se eu cair uma vez mais? Você não vai me ajudar a levantar. Estaria finalmente exposta como você sempre quis; no seu centro de equilíbrio e completamente vulnerável. Meu libertino, eu não serei sua, mesmo você me tendo. Não saberia como voar, como erguer minha cabeça, se entregar meu coração à gravidade sem fim. Não teria nenhuma certeza, se sequer tenho noção de mim. Liberte-me.

Um comentário:

  1. Cara, não sei nem o que dizer. Maravilhoso. De verdade. Queria ler esse texto desde que você me falou da ideia que teve, e tenho que dizer que as minhas expectativas não foram frustradas. Só não fique tanto tempo assim sem postar, ok? (:

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