15.8.09

Coleções Anônimas





- Oi, eu sou o Myagui. Aqui, cada um pode usar um codinome e contar sua história. O vício de fazer coleção é algo grave, e todos aqui entenderemos se você tiver realizado qualquer coisa que não seja exatamente politicamente correta, digamos assim. Alguém quer dividir conosco?


Lá do fundo da sala uma garota levantou o braço parecendo um pouco acanhada. Ela, então, levantou e foi até o palanque.

- Oi, eu sou Yoko Ono.

- Olá, Yoko Ono - disseram todos.

E aí ela começou a contar sua história. Yoko Ono era uma compradora de borrachas compulsiva. Tinha cerca de 100 borrachas e não usava de fato nenhuma. Era uma história comum no CA ( Coleções Anônimas), aonde cada um tentava aliviar a pressão de viver naquele esquema consumista. Eu não sei como é. Só frequento essas reuniões pelo prazer sádico de ver como a natureza humana pode tender a vícios estranhos. Enfim, Yoko Ono deu-se por satisfeita e foi sentar.

Logo após dela, uma dona que nunca se pronunciou resolveu participar.

- Olá, sou Rihanna.

- Oi Rihanna.



- Eu... eu não sei bem se deveria estar aqui, ou sequer contar minha história. Mas depois de muito pensar eu cheguei à conclusão de que é de fato uma coleção. Bom, no início eu não falava sobre isso com ninguém, porque não me parecia realmente um problema. Eu faço coleção de dívidas. Desde que me dei conta disso, converso muito com o gerente de diversas empresas de empréstimo ou banco. Não que eu goste disso. Quem me dera ter mais dinheiro para poder ter a dívida e depois me livrar dela, para poder ter uma outra. Não é como se eu gostasse de ter tudo o que eu compro. Só me sinto importante quando as lojas lembram de mim e me mandam cartas, ou me oferecem oportunidades de financiamento ou crédito, quando percebem que eu gosto desse esquema. Mas acontece que, obviamente, fui me afundando nessa onda, e acho que agora não sei mais viver sem elas. As dívidas, quero dizer. Tenho uma dívida, a primeira, que é como uma filha para mim. Eu cuido dela, e ela vai crescendo, me fazendo sentir como uma velha mamãe. E as mais novas, são agitadas e sempre me perseguem. Atualmente eu venho trocando dívidas com o banco. Quando eu tenho uma que não gosto tanto assim, de uma loja de departamento ou supermercado, troco por uma do banco com um nome bem legal, tipo "Crédito ouro". Agora, embora seja difícil para mim, eu estou gastando meu salário para acabar com as dívidas. É como ver seu filho sair de casa. Fica um vazio na minha caderneta, principalmente porque meu salário não é lá essas coisas.


Mas é isso. Obrigada por me ouvirem.


- De nada, Rihanna.


Mais uma vez, Myagui, o organizador, falou:


- Querida Rihanna, não me entenda mal, mas acho que você entrou no departamento errado. Aqui é para quem faz coleção de coisas. Na porta 13 no fim do corredor, você pode se achar. É o CA2 - Compulsivos Anônimos. Temos vários CA's; Carrancudos, corruptos, cismados etc. Mas foi ótimo tê-la aqui conosco.


É realmente muito curioso. Temos 3 andares inteiros de Anônimos. Doenças, vícios diversos, manias e tudo o que se pode imaginar. Daqui a pouco terá um departamento de Anônimos Anônimos - aquelas pessoas que, por ventura, se viciaram nisso aqui.





Mas eu adoro os codinomes. Um dia vou me apresentar nos Corrúpitos Anônimos, como Collor. Só para ver a reação do grupo.




(l0l)

4 comentários:

  1. Big Middle Brother5:24:00 AM

    Simplesmente sensacional. Depois me liga para eu te passar sobre outra idéia que eu tive sobre como as pessoas reagem sobre os dias da semana. Acho que você vai gostar, mas esse dos CA é muito bom mesmo!
    Beijos

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  2. sorriso de bangelo...


    >¨<

    ps: aparece lá na gaiola...

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  3. Big Middle Brother12:57:00 AM

    É "bangUelo", seu idiota!
    Aprende a escrever!

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  4. ADOREI o collor no final :D

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