26.1.10

Herdei de mim.

Ah, se eu saísse por aquela porta, a mesma em que um dia bati por várias horas, e largasse as taças de vinho mal acabadas. Eu herdei um sonho fechado focado apenas em você, e acordei mais tantas vezes sufocado nos teus cabelos. Eu sairia agora sem perguntar o porquê, mas como? Saberia que teu doce mel é para mim, e teus pecados são meus preciosos, queridos, bocados de calor. Estamos como bobos da corte, servindo ao desejo e ouvindo os barulhos da rua, calados. Desde que eu me matei de amores em teu nome. Você é louca, que me mantém nesse apartamento. E a verdade nua e crua é que não temos mais nada além do lençol em que nos enroscamos. Tantos foram os beijos que trocamos, e suplico a vida dourada cuja ausência me caleja o espírito. E minha mão pagã conhece tuas curvas, a boca adormecida e um bafo quente dividido injustamente. Teus beijos. Como eu sairei agora que o lado de fora se foi? Meu lado de fora. Só restou aqui dentro, amor. Esquece a agonia e os tapas da última briga. Esqueça já os gritos que eu joguei. Se bem me lembro haveria um momento para nós hoje è noite, e seríamos os mesmos entre tantos outros que já fomos. Seriamos amantes além dos incompreendidos de longa data.

3 comentários:

  1. Oi! Que post romântico... Essa herança me lembro aquela música do Jota Quest: "Só Hoje".
    Bjs!!

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  2. Adorei o texto. Super bem escrito, romântico e.. envolvente. hehe.
    Parabéns, maninha.
    Sua escrita está cada vez melhor e seu talento se mostra cada vez mais. =)
    beeijos, Vi !

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  3. Ao ler esses seus escritos, lembro-me de um filme que tardiamente vi na sessão das dez do tele cine cult; "O último tango em Paris". "Não sei teu nome, mas encontro em sua saliva tudo aquilo que um viúvo esquecido esperaria, mesmo que nos cantos de um apartamento enfestado por ratos.

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