19.5.09

Nome de coisa!



Justamente hoje, ao acordar, percebi que toda minha neve havia sumido!
Procurei em toda parte e nada achei. Somente poças pequenas e médias.
Perguntei à mamãe e papai, que nada sabiam. Não tinha irmão; mas quem queria irmãos?
Eu não. Mas certamente a neve era fundamental.
Daí eu fui assuntando com o urso. Ele só queria saber de mel.
Tentei também com as focas, que estavam pescando seu peixe e nem bola me deram.
Ora, vejam! Toda a neve fora embora e só eu percebi.
Desistir, eu não iria. Fui checar se o sábio-homem podia me dizer alguma coisa.
De todas as metáforas, tirei a dica: procurar e só. Não era grande coisa.
Na verdade, não era nada! Homem-sábio é uma farsa.
Mas, não tendo opções, segui o caminho para o sul, onde eu nunca tivera ido até então.
Acontece de ser um lugar cheio de mitos e lendas estranhas.
Dizem ter milhões de outros homens; diferentes daqueles que temos lá na terra Branca.
Um deles devia ter minha resposta. Se não, um dos animais bizarros dos quais tanto li.
Tantos que nem adiantava tentar decorar o nome.
Bom, eu só decorara o meu nome e de papai e mamãe.
Respectivamente: Piu, Zef e Myli.
Não estava disposto a decorar nenhum mais! Nomes são para coisas, não para pinguim!
No caminho para não sei direito onde, eu encontrei com meia dúzia de pássaros que não interromperam seu voo para saber o que um pinguim fazia andando por aquelas bandas.
Esbarrei, finalmente, com uma borboleta que me disse que voltasse, antes que todo o resto da neve sumisse de vez.
Quando pedi que se explicasse, a borboleta partiu sem dar tchau e sumiu entre as árvores.
Sentia fome e calor. Muito calor...
Será que não haveria nenhum homenzinho sequer que soubesse de neve?
Sim! Aquele no chalé devia ser entendido. Ele estava fazendo comida quando eu apareci na sua janela. Que cheiro gostoso; minha fome só aumentava.

- Quero a neve de volta!

- O que? Vish! É um pinguim! Qual seu nome?

- Piu. Mas nomes são para coisas. Cadê a minha neve?

- Derreteu.

- Por que?

- Porque sim.

- Por que?

- Ora, já disse! Que mais quer de mim?

- Como faço para que ela volte?

O homem tinha cara de peixe-boi. Estava de fato perdendo tempo valioso com ele. O que afinal era 'derreter'?

- Escute, sabe onde encontro quem me explique?

- Entre. Vou fazer um telefonema e você pode falar com o doutor.

A casa era cafona, mas confortável. Assustei-me com a enorme cabeça de alce pendurada na parede. Será que ele também tinha um nome? Resolvi chamá-lo de Mog, já que era só uma coisa agora.

- Alô? Preciso tratar com o doutor. Sim, agora mesmo. Sobre o derretimento da neve. Sim, neve. Não, é para um pinguim. Certo.
Ele me passou o telefon, aparelho que nunca tinha visto na vida. Não entendia como um telefone-doutor podia me revelar coisa alguma, mas fui em frente.
- Quero a neve!
A voz estridente saía daquela caixinha engraçada e, aleluia! Obtive informações que me valessem de alguma coisa!
- Trato com quem?
- Piu.
- Senhor Piu, tivemos que derreter sua neve.
- Por que?
- Porque tivemos que aumentar a temperatura.
- Por que?
- Porque tínhamos que produzir muitas coisas.
- Por que?
- Porque coisas fazem o homem feliz.
- Mas e minha neve?

- Se foi para sempre.

- E para onde vão as coisas?

O homem demorou para responder. Eu estava irritado. Queria comer um bom peixe e parar de suar! Bolotas !

- As coisas ficam no mundo para sempre.

- Por que os homens podem ter suas milhões de coisas para sempre e eu preciso abrir mão da neve?

- Porque, já disse, as coisas fazem o homem feliz.

- Não ligo! Devolva o que é meu.

A voz então acabou e entendi que o telefone-doutor não queria mais discutir.

Ele era burro. O outro burro, dono da cabana, me olhava com cara de poucos amigos.

Voltei para casa então, sem nada além de desculpas tolas e mal postas.

Mas, no caminho, comprei um daqueles telefones, já que era uma coisa e poderia me fazer feliz, como faz aos homens.
Mas, chegando lá, só fiz sentir falta da nevinha. O telefone de nada serviu; nem voz tinha!


Passei meu tempo, que agora era muito - sem neve os pinguins ficam extremamente entediados - nomeando as coisas que o homem tanto usava sem piedade e depois não sabia explicar porque queria.

No final, tinha nome para encher um livro:

Dinheiro, moeda, ouro, prata, relógio, roupa...

Ainda não achei um que fosse tão legal quanto a minha nevinha.
Mas já que não tem outro jeito...


3 comentários:

  1. as focas preferem ficar pescando do que dominar o mundo, por isso que só chegarão daqui TRÊS dias!!!

    ps: falta -42 dias

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  2. cara, adoro as voltas que você dá, adoro o jeito meio infantil de escrever, sem deixar o texto ser infantil. isso é difícil, cara O_O e fica tão lindo, tão leve *-* entende? pra mim esse texto tá empatado com o do primeiro dólar. os dois são lindos e eu viciei totalmente -s

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  3. Oi!
    Amei esse texto!!
    Principalmente por o protagonista ser um pingüim!
    Mto criativa a história... É impressionante como os homens se preocupam com coisas sem valor e retiram tudo o que é importante para o ambiente!!!
    Bjs!

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