11.5.09

LIFEBOAT

"Tendo o prisioneiro nazista em mãos, o que fazer era a melhor pergunta que rondava as mentes dos, atualmente, seis passageiros daquela embarcação. Digo a melhor das perguntas pois certamente não era a única a pairar naquela atmosfera de constante contestação; haviam ideais ainda com resquícios iluministas, visando os direitos humanos acima de qualquer impulso gerado por raiva ou comoção, e também tinha o outro lado da moeda, não exatamente anarquista, mas defensor de uma justiça de homem para homem ali e naquele momento.
A verdade era que a situação levava facilmente qualquer mente, racional ou não, para ambos os lados. Então decidimos ir perguntar ao capitão da emarcação o que ele achava daquilo tudo, afinal era a opnião mais bem vista entre as demais.
- Senhor, acontece de termos encontrado este homem, largado à própria sorte em alto mar, e resgatado o coitado do destino certo que lhe seguia; a morte. No entanto, o mesmo especulou, tramou e armou contra nós, enquanto fechávamos os olhos para sua natureza maligna. Quer dizer, como pudemos acreditar nas boas intenções vindas de um seguidor de Hittler? Seria obviamente de sua natureza, como ser maligno, nos apunhalar pelas costas enquanto tentávamos achar um jeito de salvar a todos.
Agora sabemos de suas armadilhas crueis, mas acontece de termos percebido tarde demais, e perdemos 3 passageiros inocentes, que nada deviam nem temiam, mas nem por isso foram poupados das garras do crápula nazista.
Para a justiça reinar em nossas almas, trazendo-nos paz, pensamos em nos vingar, como qualquer outro animal faria. Vedenta simples e dura, entregue num cálice lotado de ódio pela traição absurda que nos foi feita. Nada seria mais conveniente para nós, mas com certeza, não sendo assassinos, como poderíamos derramar sangue de um semelhante.
Afinal, ele veio do mesmo senhor criador; porém, em vida recebera os valores mais obscuros, se tornando, assim, desumano.
O que fazer com um humano que abandonou sua natureza, por uma muito pior? Diga-nos capitão! Para darmos cabo ao sentimento vasto de impunidade que nos assombra.

O capitão ouvia tudo muito desinteressado, o que era estranho. Haviamos posto uma questão existencial que deixaria a mais ignorante das criaturas num dilema sem fim aparente. No entento, ele calmamente estudava o mapa e a bússola; a razão e a direção que nos faltavam para achar terra.
Com o descaso do superior, que olhava de soslaio para nós, sua legítima tripulação, enquando aguardávamos uma resposta digna de sua parte, fez nascer a cólera no coração de uns e o medo no de outros.
E se não houvesse mesmo uma reposta?
De repente, o capitão se endireitou na cadeira à frente da embarcação perguntou como Gus havia morrido.
Gus se tratava do nosso terceiro homem, que falecera de cede e, ao pedir ajuda do nazista, fora jogado ao mar, sem condições de nadar nem forças para pedir nossa ajuda; que dormíamos inocentemente.
Ao relatar a morte de Gus, nosso Gus Smith, nossos olhos se lotaram das mais ternas lágrimas que aquele mar já havia visto.

-Todos dormiam enquanto o alemão provocava a morte de Gus?
- Sim. Não sabíamos de nada...
- Explique-me agora, Keith, porque o fato de estarem dormindo os faz mais inocentes que o acusado!
- Ora! Pois éramos ignorantes da situação, caso o contrário teríamos auxiliado prontamente o resgate do infeliz!
- Você justifica com a demência, um caso sem julgamento! Pois bem! Enquanto dormiam, qualquer coisa poderia acontecer, e aconteceu o pior. Irão agora, nunca mais pegar no sono novamente? Já que têm o conhecimento do risco de não estar à parte de tudo, a única coisa certa a fazer seria ficar de guarda sempre! Mas isso não é e nunca será possível, uma vez que o ser humano tem em sua natureza, a mesma que você diz ter sido abandonada pelo nazista, o erro e a cegueira mesmo que repentina!

Silêncio imediato tomou conta do cômodo, de modo que somente as ondas faziam-se presente; ninguém poderia ser contra o ponto de vista apresentado, mas ao mesmo tempo não seria cristão admitir serem cúmplices de atrocidades contra o irmão!
De um pulo inconciente, Keith despertou a todos do transe ao qual foram induzidos, e disse:
- Então pouco importa se participamos disto direta ou indiretamente. Eu, apenas quero poder dormir de novo, e para isso preciso ter a certeza de que algo foi feito. Então, pare de nos botar contra a parede e dê-nos a resposta!

O capitão, agora aparentando um tédio e descaso, pensava que o que tornava os homens daquela embarcação leigos, era o barulho da onda e do motor, ensurdecendo e calando, levando todos à preguiça de pensar. Tornando a todos carneiros tão feios quanto possam imaginar. Então, reconhecendo a causa perdida de fazer-se entender àqueles homens-carneiros, disse enquanto se retirava do aposento:

- Isso, meus caros, deixem que Gus decida!"

O texto acima foi criado por mim, inspirado no filme de Hitchcock: Life Boat.
Os fatos narrados realmente aconteceram no longa, porém nunca houve um capitão que os guiasse até a resposta certa, até por esta não existir.
De fato, estavam sozinhos no barco com um ser meio huma
no e meio monstro.
Porém, não perceberam que se tornaram eles mesmos, "homens carneiros". Então estavam literalmente no mesmo caminho daquele que mais tarde, seria julgado pelo mesmo capitão, e nem por isso receberia um olhar diferente.
O diretor, de maneira pesada e com uma analogia escondida no fundo de cada diálogo, traz à tona assuntos políticos e sociais, debatendo-os com o público que estiver disposto a tal desafio.
Resta-nos sempre a pergunta final: Afinal, devemos tratar gente, como gente ou como bicho, julgando puramente com nossos prórprios princípios?
Seja como for, se vamos passar tempo indeterminado nesse 'barco', devemos escolher qual dos milhares de animais da fauna iremos reprezentar. Ainda bem que temos grande variedade.

3 comentários:

  1. Odeio o nazismo, mas eu gosto de filmes sobre o nazismo.
    Quero ver esse filme!
    Me empresta depois :)


    VAI SENTANU

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  2. Aula de história e moral tudo junto *__*

    muito bom barbara (y)

    beiijos ;*

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  3. Oi!
    Bela analogia!Mais um texto seu para o ranking grande criatividade! Realmente esse capitão é meio monstro e meio humano... E "ainda bem que temos grande variedade" (adorei a ironia).
    Bjs!

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